Não é fácil abandonar a asa sempre acolhedora da mãe, as conversas sempre tão recíprocas de amigos de longa data, a terra sempre tão disposta a ser hospitaleira e gentil para com os que chegam e viver longe de todos esses predicados numa cidade onde não há nem uma coisa, nem outra, e tampouco a terceira.
Não quero passar a impressão de que essa metade de ano aqui em Brasília seja apenas um calvário frustrante. Aprendi que sobreviver em um local que não te pertence, sem um mínimo de tolerância possível, é um exercício eterno de masoquismo despropositado. Pra quê ganhar mais rugas e cabelos brancos com problemas pequenos se o próprio tempo cuida disso.
Estou sendo feliz com a minha vida pessoal, um desafio constante, extenuante, cansativo ás vezes. Não recomendo a ninguém que escolha viver a dois sem que não haja paciência, perseverança e maturidade para tal. Mas que há as suas delicias, isso não há dúvida.
A partir da semana que vem prometo fazer um balanço detalhado. Em um único e grande post para todos entenderem o que é viver aqui.
No mais, feliz 6 meses de vida candanga
quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
Cadê a ditadura? Sumiu....
Atualizado às 11:45h de 4 de dezembro
Jornalistas políticos pertencem a uma raça que adora tentar antecipar o futuro com a ajuda de projeções feitas por institutos de pesquisa chapa-branca ou publicamente contrários a algum mandatário do Executivo. Já os regimes políticos que supostamente censuram os meios de comunicação de algum país, merecem mais do sarrafadas de costume em editoriais nos jornalões. E com razão. Mesmo vendida, patrulhista ou parcial ao extremo, antes uma imprensa livre com esses sintomas do que toda ela sistematicamente calada e impedida de se expressar. Assim é a democracia, infelizmente feita para não agradar a todos. Mas a defesa apaixonada e corporativa dessa mesma mídia resulta em desastres como o que se viu durante as semanas que anteciparam o referendo venezuelano que encabeçaria poderes de reeleição ilimitada ao presidente Hugo Chavez.
O resultado final foi um dos maiores exercícios de presunção vistos nos últimos anos pela imprensa brasileira. Miriam Leitão, Alexandre Garcia, Diogo Mainardi e tantos outros esqueceram por completo a prudência e interpretaram ecos de indecisão como uma vitória manipulada antes mesmo dela existir. A palpitaria equivocada gerou-se, em especial, graças às notícias em tempo real divulgadas pelas agências EFE e Reuters, ambas pró-Bush. Quando perceberam que a votação (apertada, diga-se de passagem) pelo NÃO foi a escolhida, optaram por defender "o fator surpresa" dos eleitores como uma espécie de Plano B para suas barrigadas na TV, nos jornais e nos blogs. E havia outra solução?
Confiou-se tanto na certeza de que uma ditadura em crescimento na Venezuela não poderia originar outra coisa, senão na confirmação da vontade institucionalizada chavista para finalizar seus planos de liderança eterna, que o clima de torcida "do quanto pior, melhor" deu lugar à análise jornalística. Que decepção para eles...Foi o poder do voto de uma maioria descontente com os andamentos de uma nação que determinou os seus rumos políticos daqui pra frente. Não os tanques nem as baionetas de um "hitlerzito" com cara de rato.
Ok, há ainda sinais de que o chavismo é um governo radical, que não costuma aceitar diálogos bilaterais, controla os Três Poderes, tem uma Assembléia Legislativa com calos nas línguas de tanto lamber o coturno do coronel. Mas aceitou uma derrota nas urnas. Isso faz muita diferença.
E como diria Paulo Henrique Amorim: "Não são apenas as jabuticabas que existem só no nosso país. São pesquisas com intenção de voto que ocorrem faltando 3 anos para as eleições".
Jornalistas políticos pertencem a uma raça que adora tentar antecipar o futuro com a ajuda de projeções feitas por institutos de pesquisa chapa-branca ou publicamente contrários a algum mandatário do Executivo. Já os regimes políticos que supostamente censuram os meios de comunicação de algum país, merecem mais do sarrafadas de costume em editoriais nos jornalões. E com razão. Mesmo vendida, patrulhista ou parcial ao extremo, antes uma imprensa livre com esses sintomas do que toda ela sistematicamente calada e impedida de se expressar. Assim é a democracia, infelizmente feita para não agradar a todos. Mas a defesa apaixonada e corporativa dessa mesma mídia resulta em desastres como o que se viu durante as semanas que anteciparam o referendo venezuelano que encabeçaria poderes de reeleição ilimitada ao presidente Hugo Chavez.
O resultado final foi um dos maiores exercícios de presunção vistos nos últimos anos pela imprensa brasileira. Miriam Leitão, Alexandre Garcia, Diogo Mainardi e tantos outros esqueceram por completo a prudência e interpretaram ecos de indecisão como uma vitória manipulada antes mesmo dela existir. A palpitaria equivocada gerou-se, em especial, graças às notícias em tempo real divulgadas pelas agências EFE e Reuters, ambas pró-Bush. Quando perceberam que a votação (apertada, diga-se de passagem) pelo NÃO foi a escolhida, optaram por defender "o fator surpresa" dos eleitores como uma espécie de Plano B para suas barrigadas na TV, nos jornais e nos blogs. E havia outra solução?
Confiou-se tanto na certeza de que uma ditadura em crescimento na Venezuela não poderia originar outra coisa, senão na confirmação da vontade institucionalizada chavista para finalizar seus planos de liderança eterna, que o clima de torcida "do quanto pior, melhor" deu lugar à análise jornalística. Que decepção para eles...Foi o poder do voto de uma maioria descontente com os andamentos de uma nação que determinou os seus rumos políticos daqui pra frente. Não os tanques nem as baionetas de um "hitlerzito" com cara de rato.
Ok, há ainda sinais de que o chavismo é um governo radical, que não costuma aceitar diálogos bilaterais, controla os Três Poderes, tem uma Assembléia Legislativa com calos nas línguas de tanto lamber o coturno do coronel. Mas aceitou uma derrota nas urnas. Isso faz muita diferença.
E como diria Paulo Henrique Amorim: "Não são apenas as jabuticabas que existem só no nosso país. São pesquisas com intenção de voto que ocorrem faltando 3 anos para as eleições".
sexta-feira, 30 de novembro de 2007
Mês doido esse...
Novembro termina com as seguintes assombrações:
1) Menina menor de idade é acusada de furto (que ninguém até hoje provou ou reclamou o objeto roubado)no interior do Pará. Como a cidade é pobrinha e lá não há celas esclusivamente femininas, o governo paraense criou a prisão unissex. Enclausurou a menina por 24 dias junto com os outros detentos. Foi torturada e violentada por vezes seguidas. Os responsáveis pela detenção: UMA delegada e UMA juíza. Só faltaram dizer que o pedido da prisão-suruba partiu da própria acusada.
2) O presidente da Venezuela é chamado para participar de negociações com um grupo paramilitar de extrema-esquerda do país vizinho. A autorização veio do presidente francês que achou boa idéia a intercessão, pois o colega venezuelano é um esquerdista e o tal grupo paramilitar, que fez de refèns um grupo de franceses, possui simpatia ideológica com o presidente venezuelano.
O presidente colombiano, chefe da nação onde o grupo paramilitar atua, não gostou da interferência do presidente venezuelano, chamando-o de autoritário e mequetrefe. O presidente venezuelano fez biquinho, magoou-se e ficou de mal. Agora o presidente brasileiro vai fazer uma reunião para que os presidentes venezuelano e colombiano façam as pazes. Sendo que os presidentes brasileiro e venezuelano já andaram se estranhando por aí.
3) O Brasil criou uma TV pública. Em seu conselho consultivo que vai monitorar o "conteúdo editorial" da emissora constam um cantor de rap, um empresário, um cientista político, uma vítima de violência doméstica, um museólogo e o Boni (este dispensa apresentações). Mas ninguém sabe direito o que vai fazer nos próximos 4 anos enquanto durar os seus mandatos.
Na boa, tem hora que às vezes cansa...
1) Menina menor de idade é acusada de furto (que ninguém até hoje provou ou reclamou o objeto roubado)no interior do Pará. Como a cidade é pobrinha e lá não há celas esclusivamente femininas, o governo paraense criou a prisão unissex. Enclausurou a menina por 24 dias junto com os outros detentos. Foi torturada e violentada por vezes seguidas. Os responsáveis pela detenção: UMA delegada e UMA juíza. Só faltaram dizer que o pedido da prisão-suruba partiu da própria acusada.
2) O presidente da Venezuela é chamado para participar de negociações com um grupo paramilitar de extrema-esquerda do país vizinho. A autorização veio do presidente francês que achou boa idéia a intercessão, pois o colega venezuelano é um esquerdista e o tal grupo paramilitar, que fez de refèns um grupo de franceses, possui simpatia ideológica com o presidente venezuelano.
O presidente colombiano, chefe da nação onde o grupo paramilitar atua, não gostou da interferência do presidente venezuelano, chamando-o de autoritário e mequetrefe. O presidente venezuelano fez biquinho, magoou-se e ficou de mal. Agora o presidente brasileiro vai fazer uma reunião para que os presidentes venezuelano e colombiano façam as pazes. Sendo que os presidentes brasileiro e venezuelano já andaram se estranhando por aí.
3) O Brasil criou uma TV pública. Em seu conselho consultivo que vai monitorar o "conteúdo editorial" da emissora constam um cantor de rap, um empresário, um cientista político, uma vítima de violência doméstica, um museólogo e o Boni (este dispensa apresentações). Mas ninguém sabe direito o que vai fazer nos próximos 4 anos enquanto durar os seus mandatos.
Na boa, tem hora que às vezes cansa...
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
A lenta agonia dos Raimundos
A banda brasiliense de hardcore Raimundos completa 20 anos em 2007. Está muito longe de ser a influência que exerceu em meados na década de 90. Está tão distante da ribalta quanto no seu início. As brigas internas geraram acordes tão desarmônicos entre os seus integrantes que dois deles que ilustram essa foto (o vocalista Rodolfo; de óculos escuros, e o baterista, o barbudinho Fred) sequer pertencem mais a esse elenco. O primeiro virou evangélico às pressas e o segundo, sabe-se lá o que faz da vida agora.
Mas os caras insistem, mesmo que as comparações inevitáveis entre o antes e depois da fama meteórica causem certo constrangimento. Em entrevista dada a um jornal local da Rede Record nesse fim de semana, os quatro em sua nova formação (com Digão nos vocais, Canisso no baixo, Marquim, nas baquetas e Alf na guitarra) estavam em cima de um minúsculo palco montado em um ginásio esportivo que não deveria ter 10 metros de um extremo a outro. Para quem já lotou o Canecão no Rio ou abriu uma das edições do MTV Video Music Brasil era de dar dó assistir a tamanha decadência.
Apesar de pequena, a matéria foi reveladora. Eles preparam uma pseudo volta com uma turnê inédita...pelo Distrito Federal. Se tocarem em 10 cidades, já será um feito. Os shows vêm acompanhados do que eles chamam de "ingresso solidário". Metade do preço do ingresso e um livro em boas condições para a construção de bibliotecas em algumas cidades da região(a primeira foi a do Guará), garantem a entrada para rever sucessos como "Me Lambe", "Eu quero ver o oco", entre outras.
A repórter pergunta quais são os planos para o ano que vem. DVD? Um novo CD? Digão, um pouco tímido, diz que "a prioridade é apenas tocar, não estamos querendo fazer estardalhaço, por enquanto;vamos espalhar a notícia aos poucos". Humildade? Não. Estão sem gravadora e a banda perdeu a sua capacidade mercadológica na mídia faz tempo. As bandas trash da década de 80 encontram mais espaço de divulgação e promoção do que eles.
Mas justiça seja feita, o grupo não era ruim. Pertenceu àquela cepa de bandas de rock com cromossomos engraçadinhos como Baba Cósmica, Maria do Relento (alguém se lembra disso?)e, a mais famosa e rentável de todas, Manonas Assassinas. A debandada repentina do chamariz do grupo, Rodolfo, que simplesmente declarou que estava caindo fora para pregar a Palavra da Deus e bateu a porta na cara de todos, virou de ponta-cabeça a vida dos Raimundos remanescentes. Foi um inferno, especialmente para os negócios, já que contratos foram rasgados e multas pesadas tiveram de ser pagas para ressarcir shows cancelados.
Mas nada que uma boa queda não faça para que se repense com calma o que fazer daqui em diante não acham? De qualquer forma, antes a volta mirrada de um rock divertido, autêntico e descompromissado com "mensagens" do que a continuidade de imbecilidades como Latino.
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
Samba do "democrático" doido
Deixa ver se eu entendi...
A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou a inclusão da Venezuela no Mercosul, um bloco econômico que durante a sua criação, em meados da década de 90, deveria fazer frente à Nafta (EUA, Canadá e México) e à União Européia como forma de se provar ao países ricos que a América Latina também poderia ser um mercado em franca ascensão num mundo globalizado altamente competitivo. Até aí morreu Neves, certo?
Uma das razões para a inclusão da Venezuela é que ela detém uma suculenta produção de petróleo. Ela sabe extrair a matéria-prima de seus campos, mas não possui a nossa tão necessária tecnologia de manufaturamento e geoprocessamento que transformariam os derivados do combustível fóssil venezuelano em ativos mais qualificados para o consumo interno e para o externo (exportação). Uma mão vai lavar a outra e todos ganham dinheiro.OK? ok.
Mas a oposição do governo Lula afirma que a inclusão do país no bloco é ultrajante, por causa de sua aparente ditadura estar, entre outras arbitrariedades, violando os preceitos democráticos e elementares de seu povo e manipulando os Três Poderes para que o presidente Hugo Chavez tenha (incluindo aí uma overdose de reeleições) eternas regalias...
...E UM DOS PUXADORES DA CORRENTE DA OPOSIÇÃO É ACM NETO?????
Antônio Carlos Magalhães Neto (foto) pertence ao Democratas, antigo Partido da Frente Liberal, ex-ARENA, um dos braços políticos que apoiou e ajudou a sustentar uma ditadura militar de 21 anos que torturou, matou e perseguiu brasileiros, silenciou imprensa, manifestações artísticas e instituições democráticas.Uma representação política que precisou desinfetar a putridão de um passado, optando por nomenclaturas mais simbolicamente bisonhas.
Alguns asseclas de alguns ancestrais de ACM Neto pertencem às mesmas gangues de fascínoras que motivaram a criação de uma Comissão de Direitos Humanos que até hoje possui dificuldades em se trabalhar no processo de indenizações para as famílias de centenas de mortos e desaparecidos políticos, porque até hoje os militares não disponibilizaram provas documentais para as formalizações jurídicas de praxe. E nunca disponibilizarão.
Há algo de muito, muito estranho num país que possui uma oposição a um governo de esquerda, cuja representação foi historicamente responsável pela construção de uma ditadura e hoje protesta contra a legitimização de outra. Ainda que seja a do vizinho.
Isso se chama demagogia. E já que estamos na Corte,pergunto: ACM Neto... Por que não te calas?
ALIÁS E A PROPÓSITO
Para saber mais sobre a polêmica definição de ditadura no governo chavista, leiam o excelente artigo do (meu amigo) jornalista e cientista político Maurício Santoro, do IUPERJ, clicando aqui
A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou a inclusão da Venezuela no Mercosul, um bloco econômico que durante a sua criação, em meados da década de 90, deveria fazer frente à Nafta (EUA, Canadá e México) e à União Européia como forma de se provar ao países ricos que a América Latina também poderia ser um mercado em franca ascensão num mundo globalizado altamente competitivo. Até aí morreu Neves, certo?
Uma das razões para a inclusão da Venezuela é que ela detém uma suculenta produção de petróleo. Ela sabe extrair a matéria-prima de seus campos, mas não possui a nossa tão necessária tecnologia de manufaturamento e geoprocessamento que transformariam os derivados do combustível fóssil venezuelano em ativos mais qualificados para o consumo interno e para o externo (exportação). Uma mão vai lavar a outra e todos ganham dinheiro.OK? ok.
Mas a oposição do governo Lula afirma que a inclusão do país no bloco é ultrajante, por causa de sua aparente ditadura estar, entre outras arbitrariedades, violando os preceitos democráticos e elementares de seu povo e manipulando os Três Poderes para que o presidente Hugo Chavez tenha (incluindo aí uma overdose de reeleições) eternas regalias...
...E UM DOS PUXADORES DA CORRENTE DA OPOSIÇÃO É ACM NETO?????
Antônio Carlos Magalhães Neto (foto) pertence ao Democratas, antigo Partido da Frente Liberal, ex-ARENA, um dos braços políticos que apoiou e ajudou a sustentar uma ditadura militar de 21 anos que torturou, matou e perseguiu brasileiros, silenciou imprensa, manifestações artísticas e instituições democráticas.Uma representação política que precisou desinfetar a putridão de um passado, optando por nomenclaturas mais simbolicamente bisonhas.
Alguns asseclas de alguns ancestrais de ACM Neto pertencem às mesmas gangues de fascínoras que motivaram a criação de uma Comissão de Direitos Humanos que até hoje possui dificuldades em se trabalhar no processo de indenizações para as famílias de centenas de mortos e desaparecidos políticos, porque até hoje os militares não disponibilizaram provas documentais para as formalizações jurídicas de praxe. E nunca disponibilizarão.
Há algo de muito, muito estranho num país que possui uma oposição a um governo de esquerda, cuja representação foi historicamente responsável pela construção de uma ditadura e hoje protesta contra a legitimização de outra. Ainda que seja a do vizinho.
Isso se chama demagogia. E já que estamos na Corte,pergunto: ACM Neto... Por que não te calas?
ALIÁS E A PROPÓSITO
Para saber mais sobre a polêmica definição de ditadura no governo chavista, leiam o excelente artigo do (meu amigo) jornalista e cientista político Maurício Santoro, do IUPERJ, clicando aqui
segunda-feira, 19 de novembro de 2007
Sobre sobrancelhas
O baranguismo e o bom gosto sempre andaram em total concórdia nas sociedades modernas. Ambos sobrevivem em uma coexistência pacífica, agradando às preferências individuais dos que têm coragem de escolher entre um e outro.
Em Brasília não poderia ser diferente. Há mocréias e tchutchucas como em todo o Brasil, claro. Mas o que diferencia o ecossistema candango dos demais é a produção do "código genético" das primeiras, um sistema de padronização exclusivo oriúndo, quem sabe, dos salões de beleza mais exóticos.
O molde das sobrancelhas brasilienses, em grande parte das espécimes, é arqueado pra baixo, conferindo às candanguinhas uma aparência maquiavélica e quase demoníaca. São curvas acima dos olhos que retocam a já tão conhecida anti-sociabilidade brasiliense; um povo que não sabe dizer "por favor", "obrigado", mal sabe se desviar das calçadas para o transeunte amigo fazer o seu itinerário.
Na hora do rush (o desordem do trânsito local já possibilita irritantes engarrafamentos; é o progresso chegando à província como diria Maluf) muitas delas se reúnem, refesteladas de cansaço, em frente aos pontos de ônibus do Shopping Pátio Brasil. A fadiga torna-se ainda mais cruel quando o estandarte impresso nos olhos é um convite para o afastamento prévio... Jack Nicholson fez moda por aqui e não sabe disso.
Acreditem, dá até medo de pedir uma informação a essas pobres almas, quanto mais tentar puxar um papinho para espairecer o tédio da espera pela bendita condução. Com aquelas sobrancelhas, qualquer uma parece ter problemas demais em casa para que sejam importunadas em seu ódio fashion.
Mas poderia ser pior. Em Manaus, no início da década de 90 do século XX, as meninas imitavam um adorno criado pela cantora Sula Miranda. Pintavam as unhas dos dedos de uma cor *(vermelho) e do dedo mindinho de outra completamente diferente *(amarelo) . Dos pés e das mãos.
*cores opcionais
Em Brasília não poderia ser diferente. Há mocréias e tchutchucas como em todo o Brasil, claro. Mas o que diferencia o ecossistema candango dos demais é a produção do "código genético" das primeiras, um sistema de padronização exclusivo oriúndo, quem sabe, dos salões de beleza mais exóticos.
O molde das sobrancelhas brasilienses, em grande parte das espécimes, é arqueado pra baixo, conferindo às candanguinhas uma aparência maquiavélica e quase demoníaca. São curvas acima dos olhos que retocam a já tão conhecida anti-sociabilidade brasiliense; um povo que não sabe dizer "por favor", "obrigado", mal sabe se desviar das calçadas para o transeunte amigo fazer o seu itinerário.
Na hora do rush (o desordem do trânsito local já possibilita irritantes engarrafamentos; é o progresso chegando à província como diria Maluf) muitas delas se reúnem, refesteladas de cansaço, em frente aos pontos de ônibus do Shopping Pátio Brasil. A fadiga torna-se ainda mais cruel quando o estandarte impresso nos olhos é um convite para o afastamento prévio... Jack Nicholson fez moda por aqui e não sabe disso.
Acreditem, dá até medo de pedir uma informação a essas pobres almas, quanto mais tentar puxar um papinho para espairecer o tédio da espera pela bendita condução. Com aquelas sobrancelhas, qualquer uma parece ter problemas demais em casa para que sejam importunadas em seu ódio fashion.
Mas poderia ser pior. Em Manaus, no início da década de 90 do século XX, as meninas imitavam um adorno criado pela cantora Sula Miranda. Pintavam as unhas dos dedos de uma cor *(vermelho) e do dedo mindinho de outra completamente diferente *(amarelo) . Dos pés e das mãos.
*cores opcionais
terça-feira, 13 de novembro de 2007
Depois reclamam...
Os proprietários do Jornal de Brasília acharam por bem encontrar um garoto propaganda à altura de suas ambições comerciais. Elegeram para a tarefa alguém sob medida que representasse uma grande parcela de seus leitores ou, talvez, o tipo de notícia consumida por esse mesmo público-alvo. Alguém com apelo popular suficiente que pudesse estar identificado como um igual perante a sua massa de consumidores fiéis para multiplicar as vendagens de suas edições.
Escolheram Nerso da Capitinga, o caipira mineiro criado pelo humorista Pedro Bismark, uma das descobertas de Chico Anysio. Nerso é um personagem bronco, ingênuo, que mal articula as palavras, que, sabe-se lá, se lê ou escreve. Ele já fez propaganda de rodeios, supermercados e até de insumos agrícolas. Mas nunca imaginei que alguém pudesse enxergar em Nerso, uma estratégia eficiente de marketing para um jornal diário que entre suas matérias-primas estão rigores analítico-textuais que Nerso nem sonha em saber do que se trata.
Pelo racio(símio) descrito nesse estudo de caso, tal aberração se repetiria caso contratassem o João Gordo para fazer um comercial sobre academias de ginástica ou uma modelo anoréxica para uma propaganda sobre complementos alimentares. Daqui a pouco veremos o palhaço Tiririca tecendo loas ao Correio Braziliense. Muito esquisito...
Definitivamente, foi um tiro no pé. Não leio mais o "JB" daqui por respeito à inteligência que ainda possuo. Mais uma prova dos tempos inglórios que a categoria (à dos jornalistas, especifique-se) vive.
E mais uma prova da província jeca que é Brasília.
segunda-feira, 5 de novembro de 2007
Por enquanto, soy contra
A Copa de 2014 está sendo alardeada pelos quatro cantos de Pindorama como uma grande conquista brasileira, como a grande chance de mostrar ao mundo o quanto amadurecemos em termos de políticas públicas e o quão responsáveis com os investimentos em infra-estrutura podemos ser, haja vista a excelente performance de gestão e organização que os Jogos Panamericanos obtiveram.
Mas o ceticismo é reinante até entre grande parte dos entusiastas, tanto que o fato de se sediar um certame mundial não é uma unanimidade disparada. A Copa vai nos custar pelo menos R$ 50 bilhões apenas para ajustar os principais estádios às especificações básicas da FIFA. É uma grande tentação para se fazer uma farra com o dinheiro público digna de Calígula, vide licitações boazinhas para as panelinhas de empreiteiras que vão se lambuzar desse mel de perdição.
Iniciativa privada? Aí também mora um problema. Os Jogos Panamericanos do Rio foram orçados em R$650 milhões financiados pelo BID e outras instiuições de fomento, incluindo-se aí uma seleta de empresas privadas idôneas. Terminou com um superfaturamento de R$ 3 bilhões. Quiseram criar uma Comissão Parlamentar de Inquèrito, mas a CPI do Pan foi abortada antes que o coito fosse interrompido. Vamos ver o que vai acontecer lá pra 2013.
Enquanto Lula continua fingindo mais uma vez que não sabe de nada sobre as articulações para um virtual terceiro mandato (o que, possivelmente, o levará a uma segunda saraivada de vaias em eventos esportivos de grandes proporções), o governo ainda dá sinais que ainda falta muito pra se arrumar a casa.
Relatório da ONG Contas Abertas esclarece que "em relação a este ano, os investimentos federais ainda estão longe da meta que o Executivo se fixou". No caso do PAC, dos 427 projetos identificados no Orçamento da União, num total de R$ 7,5 bilhões previstos para 2007, o governo só executou até agora R$ 1 bilhão, incluindo despesas pendentes de anos anteriores (os chamados restos a pagar).
E a imprensa clama por transporte coletivo de qualidade, aeroportos funcionando, segurança para atletas e cidadãos. Então tá. Vamos dar muita sorte se a Constituição não for alterada às escuras para que a Escola Hugo Chavez de Formação de Ditadores Latino-Americanos não encontre no Brasil a sua mais rentável filial.
Mas o ceticismo é reinante até entre grande parte dos entusiastas, tanto que o fato de se sediar um certame mundial não é uma unanimidade disparada. A Copa vai nos custar pelo menos R$ 50 bilhões apenas para ajustar os principais estádios às especificações básicas da FIFA. É uma grande tentação para se fazer uma farra com o dinheiro público digna de Calígula, vide licitações boazinhas para as panelinhas de empreiteiras que vão se lambuzar desse mel de perdição.
Iniciativa privada? Aí também mora um problema. Os Jogos Panamericanos do Rio foram orçados em R$650 milhões financiados pelo BID e outras instiuições de fomento, incluindo-se aí uma seleta de empresas privadas idôneas. Terminou com um superfaturamento de R$ 3 bilhões. Quiseram criar uma Comissão Parlamentar de Inquèrito, mas a CPI do Pan foi abortada antes que o coito fosse interrompido. Vamos ver o que vai acontecer lá pra 2013.
Enquanto Lula continua fingindo mais uma vez que não sabe de nada sobre as articulações para um virtual terceiro mandato (o que, possivelmente, o levará a uma segunda saraivada de vaias em eventos esportivos de grandes proporções), o governo ainda dá sinais que ainda falta muito pra se arrumar a casa.
Relatório da ONG Contas Abertas esclarece que "em relação a este ano, os investimentos federais ainda estão longe da meta que o Executivo se fixou". No caso do PAC, dos 427 projetos identificados no Orçamento da União, num total de R$ 7,5 bilhões previstos para 2007, o governo só executou até agora R$ 1 bilhão, incluindo despesas pendentes de anos anteriores (os chamados restos a pagar).
E a imprensa clama por transporte coletivo de qualidade, aeroportos funcionando, segurança para atletas e cidadãos. Então tá. Vamos dar muita sorte se a Constituição não for alterada às escuras para que a Escola Hugo Chavez de Formação de Ditadores Latino-Americanos não encontre no Brasil a sua mais rentável filial.
terça-feira, 30 de outubro de 2007
Brazilian way of life
A Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, é um bairro de bacanas onde reina a jequice ululante que tenta convencer a todos que é mais chique se parecer com uma filial bananesca de Miami.
Cerca de 90% de seus estabelecimentos comerciais almofadinhas possuem mensagens de ofertas e promoções em inglês. Até os traficantes da Rocinha, num esperto golpe de marketing estrategicamente endereçado ao seu seletíssimo público-alvo do high society, inventaram, num passado recente, um esquema de entregas batizado de "pó delivery".
Mas nada disso chega aos pés da mais alarmante prova do quão colonizados somos pela águia frondosa do Império.
Brasília tem o seu bairrozinho emergente, este batizado especialmente com a grafia anglo-saxã. Trata-se do bairro Park Way. Também é majoritariamente conhecido como SMPW ou, simplesmente, Setor de Mansões Park Way. Deve ser o único bairro brasileiro da federação com um nome inteiramente em inglês.
Grassa ali uma atmosfera tão esnobe que seus moradores não questionam a necessidade de uma zona comercial nas imediações para fazer suas compras básicas. Quem quiser pagar por um simples brunch, por exemplo, que se recoste em seu possante Pajero platinado e dirije-se aos setores "menos favorecidos" onde o serviço é cordialmente exercido pelos mucamos assalariados das cidades satélites.
Coisas assim me fazem sentir saudades da Estátua da Liberdade da Av. das Américas.
Cerca de 90% de seus estabelecimentos comerciais almofadinhas possuem mensagens de ofertas e promoções em inglês. Até os traficantes da Rocinha, num esperto golpe de marketing estrategicamente endereçado ao seu seletíssimo público-alvo do high society, inventaram, num passado recente, um esquema de entregas batizado de "pó delivery".
Mas nada disso chega aos pés da mais alarmante prova do quão colonizados somos pela águia frondosa do Império.
Brasília tem o seu bairrozinho emergente, este batizado especialmente com a grafia anglo-saxã. Trata-se do bairro Park Way. Também é majoritariamente conhecido como SMPW ou, simplesmente, Setor de Mansões Park Way. Deve ser o único bairro brasileiro da federação com um nome inteiramente em inglês.
Grassa ali uma atmosfera tão esnobe que seus moradores não questionam a necessidade de uma zona comercial nas imediações para fazer suas compras básicas. Quem quiser pagar por um simples brunch, por exemplo, que se recoste em seu possante Pajero platinado e dirije-se aos setores "menos favorecidos" onde o serviço é cordialmente exercido pelos mucamos assalariados das cidades satélites.
Coisas assim me fazem sentir saudades da Estátua da Liberdade da Av. das Américas.
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
Um pouco sobre o Rio
Gostaria de tecer uma análise minuciosa sobre Tropa de Elite, um filme complexo por demais em toda a sua estrutura narrativa e discursiva, mas tal detalhamento crítico levaria horas e o tempo é um tanto escasso para a conclusão de um trabalho com que se espere um mínimo de satisfação. Porém, gostaria de dizer algumas coisinhas:
1) Quem quiser simplificá-lo com recalques de extremos ideológicos vai estar cometendo a mais doce das imbecilidades. É um excelente filme que nada mais é do que a tradução de um conjunto de consequências dentro de nossa sociedade, onde TODOS têm a sua parcela de culpa. Elite e políticos, principalmente. Vamos precisar de mais alguns anos para verificar se "Tropa..." vai padecer no limbo do esquecimento ou pertencer àquela sagrada galeria de filmes essenciais para se entender uma determinada época.
2)O Capitão Nascimento é um ser devastado emocionalmente, está à beira de um colapso nervoso, toma anti-depressivos para estabilizar a sua neurose.Tem um casamento falido, sente remorso, está estafado e quer abandonar a rotina de violência que integra a sua vida. Está sendo internamente massacrado pelo cotidiano que tem. Ele está muito longe da perfeição dos heróis mitológicos. Ele não um Super-Homem portando um fuzil a tira-colo. O Capitão Nascimento é a sua própria kriptonita. Ele é humano, demasiadamente humano, como diria Niezstche.
3) Até o próprio criador do Bope, Coronel Amêndola, em entrevista a um blog especializado em reportagens policiais do Globo admitiu que o comportamento de Nascimento é um pouco fantasioso. Será?
4) Aqui está disponível uma resenha crítica sobre "Vigiar e Punir", o livro do filósofo francês Michel Foucault sobre o nascimento das instituições de repressão e controle penal que originaram metamorfoses do calibre de um Bope. A obra-prima é mencionada no filme e tem quase um parágrafo inteiro lido pelo personagem Matias, feito com maestria por André Ramiro. Aliás, o livro, completou exatas três décadas de polêmicas esse ano.
5)Vamos combinar. Nem toda ONG é um antro de permissividade e conluio com o tráfico como é mostrado na película. Tive o prazer de conhecer de perto o trabalho de, pelo menos, umas 5 delas no ano passado e o único entrave que, de fato, precisa passar pela "aprovação" dos chefões das bocas de fumo é o local onde vai ser construído o escritório da Organização Não Governamental e o que ela vai fazer em detalhes. De resto, desde que um não atrapalhe "os negócios" do outro, é cada um para um lado na santa paz de Deus.
6) Resumindo, resumindo, resumindo, "Tropa de Elite" é o nosso primeiríssimo filme de guerra. Assim como em "Platoon" e "Nascido para Matar" que retratavam, cada um à sua maneira, um exército em crise, apesar de propagada infalibilidade (o primeiro foca-se na decorrada moral, o segundo na derrocada psicológica), o exemplar tupiniquim estrapola as derrocadas sociais que anulam sua áurea de perfeição.
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
Mais do que ascensoristas
Existem mais semelhanças entre a Procuradoria Geral da República e a Torre de TV de Brasília do que imagina nossa vã filosofia. E não estou me referindo à mesma escola modernista de arquitetura. Mas aos que conduzem todos os dias o sobe-e-desce de elevadores que possibilita que funcionários e turistas exerçam o sagrado direito constitucional de ir e vir.
Um trabalha na PGR e, para exaurir um pouco a entediante obviedade do ofício, transforma os minutos disponíveis do cárcere vertiginoso em leitura. E não se trata de qualquer leitura. O funcionário (que ainda vou descobrir o nome) é flagrado folheando obras de Sheldon, Dostoiéviski, Dan Brown (nesse caso tive que ausentar a menção solitária do sobrenome por limitações de sua ainda não imortalizada fama como escritor clássico) Machado, Amado e por aí vai.
Menos intelectual, por assim dizer, mas não menos notável, o ascensorista da Torre de TV de Brasília se faz de guia turístico instantâneo, tentando resumir algumas informações técnicas sobre a construção da torre no curto trajeto de 22 segundos que separa o térreo e a plataforma de observação com os seus mais de 70 metros de altura. No retorno ao solo, os turistas são surpreendidos com uma divertida trívia feita pelo próprio ascensorista sobre as informações fornecidas anteriormente.
Um trabalha na PGR e, para exaurir um pouco a entediante obviedade do ofício, transforma os minutos disponíveis do cárcere vertiginoso em leitura. E não se trata de qualquer leitura. O funcionário (que ainda vou descobrir o nome) é flagrado folheando obras de Sheldon, Dostoiéviski, Dan Brown (nesse caso tive que ausentar a menção solitária do sobrenome por limitações de sua ainda não imortalizada fama como escritor clássico) Machado, Amado e por aí vai.
Menos intelectual, por assim dizer, mas não menos notável, o ascensorista da Torre de TV de Brasília se faz de guia turístico instantâneo, tentando resumir algumas informações técnicas sobre a construção da torre no curto trajeto de 22 segundos que separa o térreo e a plataforma de observação com os seus mais de 70 metros de altura. No retorno ao solo, os turistas são surpreendidos com uma divertida trívia feita pelo próprio ascensorista sobre as informações fornecidas anteriormente.
terça-feira, 9 de outubro de 2007
A coleguinha
Um pouco de ecologia I - Salvem a corujinha!!!
A ampliação do estacionamento da Igreja Presbiteriana do Lago Sul poderá ameaçar várias famílias de corujas buraqueiras que habitam a região. Ela tem como hábito peculiar cavar buracos no solo onde monta os seus ninhos e passa as noites, já que é uma das poucas espécies de corujas com hábitos diurnos.
Tais aves chegam a medir até 23 cm de comprimento, com coloração parda com traços cor de terra. Costumam viver em campos, pastos e restingas. Também são conhecidas pelos nomes de caburé-de-cupim, caburé-do-campo, coruja-barata, coruja-do-campo, coruja-mineira, corujinha-buraqueira, corujinha-do-buraco, corujinha-do-campo, guedé, urucuera, urucuréia e urucuriá.
Clicando aqui você pode ter uma belíssima imagem do bichinho.
Tais aves chegam a medir até 23 cm de comprimento, com coloração parda com traços cor de terra. Costumam viver em campos, pastos e restingas. Também são conhecidas pelos nomes de caburé-de-cupim, caburé-do-campo, coruja-barata, coruja-do-campo, coruja-mineira, corujinha-buraqueira, corujinha-do-buraco, corujinha-do-campo, guedé, urucuera, urucuréia e urucuriá.
Clicando aqui você pode ter uma belíssima imagem do bichinho.
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
O pedal é mais embaixo
É apenas a ponta do iceberg querer promover qualquer tipo de discussão moralizadora sobre os culpados envolvidos num racha na ponte JK, no Lago Sul de Brasília, onde morreram 3 pessoas nesse fim de semana. Sem querer me estender sobre didatismos estéreis acerca da responsabilidade que deveria ter um profesor de 41 anos (!) que dirigia bêbado na hora da tragédia, o assunto em si desperta uma excelente oportunidade de análise sobre como a Capital Federal trata os seus motoristas. Trata como se fossem deuses.
Brasília foi projetada para ser uma cidade em que o carro é mais do que um símbolo de consumo e status. É uma ferramenta de necessidade, um diploma reconhecidamente nobre de pertencimento à sociedade sem que o indivíduo seja observado com estranheza. Com os seus amplos espaços, suas pistas longínquas, cada metro quadrado daqui é carregado de uma auto-crítica referencial ao fato de um cidadão não "ter o direito" de ser um mero pedestre desprovido de carburador e cavalos de força.
Há mais pessoas ao volante no asfalto do que almas andarilhas em suas calçadas. A proporção estatística é de 1 carro para cada 4 pessoas, segundo o DFTrans. Para se ter uma idéia do quão alienígenas são os que necessitam do Estado para a simples locomoção a curtas e médias distâncias, somente há alguns meses é que um governo do DF demonstrou sensibilidade com o drama.
Foram adquiridos recentemente 530 ônibus para revitalizar uma das frotas mais sucateadas do país. Antes disso, circulavam, para o desprazer dos pobres trabalhadores, monstros fabricados no início da década de 90 com pouquíssimas amostras de manutenção. Uma das empresas mais criticadas no quesito relaxamento era a Viplan, que pertence ao ex-todo poderoso dono da Vasp, Wagner Canhedo.
Brasília foi projetada para ser uma cidade em que o carro é mais do que um símbolo de consumo e status. É uma ferramenta de necessidade, um diploma reconhecidamente nobre de pertencimento à sociedade sem que o indivíduo seja observado com estranheza. Com os seus amplos espaços, suas pistas longínquas, cada metro quadrado daqui é carregado de uma auto-crítica referencial ao fato de um cidadão não "ter o direito" de ser um mero pedestre desprovido de carburador e cavalos de força.
Há mais pessoas ao volante no asfalto do que almas andarilhas em suas calçadas. A proporção estatística é de 1 carro para cada 4 pessoas, segundo o DFTrans. Para se ter uma idéia do quão alienígenas são os que necessitam do Estado para a simples locomoção a curtas e médias distâncias, somente há alguns meses é que um governo do DF demonstrou sensibilidade com o drama.
Foram adquiridos recentemente 530 ônibus para revitalizar uma das frotas mais sucateadas do país. Antes disso, circulavam, para o desprazer dos pobres trabalhadores, monstros fabricados no início da década de 90 com pouquíssimas amostras de manutenção. Uma das empresas mais criticadas no quesito relaxamento era a Viplan, que pertence ao ex-todo poderoso dono da Vasp, Wagner Canhedo.
sexta-feira, 5 de outubro de 2007
A Lei do Simon
O peemedebista Pedro Simon, gentilmente recém-convidado a se retirar da Comissão de Constituição de Justiça do Senado pelo (até que alguém tenha a coragem de provar o contrário) capo Renan Calheiros, é autor de uma lei que hiberna há exatos dez anos no Congresso Nacional.
É a 9454/97 que unifica em um só cartão numerado o conjunto de documentos que o cidadão é, por lei, obrigado a portar.
Estariam atrelados a ele nome,filiação,CPF,RG, naturalidade, tipo sanguíneo, além das chamadas informações biométricas (impressões digitais, assinatura e fotografia)
O novo sistema, garantem especialistas, pode reduzir em muito os casos envolvendo falsificação de carteiras de identidade. Segundo cálculos da Previdência, entre R$ 10 bilhões a R$ 15 bilhões são perdidos anualmente em razão de fraudes.
Saiba mais lendo:
Aqui
E aqui também
É a 9454/97 que unifica em um só cartão numerado o conjunto de documentos que o cidadão é, por lei, obrigado a portar.
Estariam atrelados a ele nome,filiação,CPF,RG, naturalidade, tipo sanguíneo, além das chamadas informações biométricas (impressões digitais, assinatura e fotografia)
O novo sistema, garantem especialistas, pode reduzir em muito os casos envolvendo falsificação de carteiras de identidade. Segundo cálculos da Previdência, entre R$ 10 bilhões a R$ 15 bilhões são perdidos anualmente em razão de fraudes.
Saiba mais lendo:
Aqui
E aqui também
Mega-ultra-hiper-combo-factóide
Acredite. O "decreto do ano", aquele em que o governador do DF, José Roberto Arruda, "demite" o gerúndio do poder público brasiliense, é tema em mais de 12.800 páginas postadas no Google.
quinta-feira, 4 de outubro de 2007
Só falta a loja de conveniência
Deveria ser intencional para diversificar a utilização do espaço projetado.
Mas o fato é que causa certa estranheza a biblioteca digital do Centro Universitário do Distrito Federal, (UniDF) disputar o mesmo ambiente onde encontra-se um pequeno auditório com cerca de 20 lugares com direito a telão e retroprojetor.
Entre pesquisas na internet, simples envio de e-mails e afins, você é obrigado a escutar a apresentação de um grupo qualquer com as presenças de professora, corpo discente e todo o resto.
Anteontem foi a vez de um grupo de alunos de Direito apresentar um trabalho sobre Direito de Família. Um dos alunos introduziu sua defesa de estudo com uma anedota sobre galinhas e raposas que durou intermináveis 10 minutos.
No meu tempo, biblioteca era local onde se priorizava o silêncio.
Mas o fato é que causa certa estranheza a biblioteca digital do Centro Universitário do Distrito Federal, (UniDF) disputar o mesmo ambiente onde encontra-se um pequeno auditório com cerca de 20 lugares com direito a telão e retroprojetor.
Entre pesquisas na internet, simples envio de e-mails e afins, você é obrigado a escutar a apresentação de um grupo qualquer com as presenças de professora, corpo discente e todo o resto.
Anteontem foi a vez de um grupo de alunos de Direito apresentar um trabalho sobre Direito de Família. Um dos alunos introduziu sua defesa de estudo com uma anedota sobre galinhas e raposas que durou intermináveis 10 minutos.
No meu tempo, biblioteca era local onde se priorizava o silêncio.
Meninos, eu vi!
Ontem, por volta das 21h30, saída do supermercado Comper, Asa Sul, 306.
Dois casais aparentando ser de procedência árabe carregavam suas compras honestas em direção ao estacionamento. O fato inusitado da situação foi perceber que as moças trajavam burkas! Sim, aquele traje imortalizado mundialmente pelo regime fundamentalista talibã que as cobre inteiras, apenas deixando os olhos à vista do mundo pagão.
Há dezenas de testemunhas.
Dois casais aparentando ser de procedência árabe carregavam suas compras honestas em direção ao estacionamento. O fato inusitado da situação foi perceber que as moças trajavam burkas! Sim, aquele traje imortalizado mundialmente pelo regime fundamentalista talibã que as cobre inteiras, apenas deixando os olhos à vista do mundo pagão.
Há dezenas de testemunhas.
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
Tamanho não é documento
Um exemplo da prosperidade econômica do DF pode ser constatado pela última pesquisa realizada pelo IBGE que monitorou o volume de depósitos em poupança feitos em agências bancárias privadas e estatais no ano passado.
Os correntistas candangos possuem debaixo dos colchões mais de R$ 4 bilhões para uma população estimada em 2 milhões e 300 mil habitantes.
Comparado com o Piauí, o estado mais pobre do país, observa-se uma diferença gritante. O volume da poupança alcança, com certo sofrimento, R$ 1 bilhão, considerando sua população de um pouco mais de 3 milhões de habitantes.
Detalhe: O Distrito Federal tem 5 mil quilômetros quadrados. O Piauí tem mais de 200 mil
Os correntistas candangos possuem debaixo dos colchões mais de R$ 4 bilhões para uma população estimada em 2 milhões e 300 mil habitantes.
Comparado com o Piauí, o estado mais pobre do país, observa-se uma diferença gritante. O volume da poupança alcança, com certo sofrimento, R$ 1 bilhão, considerando sua população de um pouco mais de 3 milhões de habitantes.
Detalhe: O Distrito Federal tem 5 mil quilômetros quadrados. O Piauí tem mais de 200 mil
Como é que é?
Entrevistado ontem pelo Correio Braziliense, o embaixador do Irã, Sayed Reza Nobukhti ressaltou a inexistência de homossexuais no país conforme pregou, entusiasticamente, o presidente Mahmoud Ahmadinejad em uma universidade americana. Até aí tudo bem.
Lá pela terceira pergunta que enfocava a visita do presidente iraniano a terras brasileiras daqui a duas semanas, o embaixador teceu loas sobre o comércio bilateral entre os dois países. Ao falar sobre o setor de automobilismo, veio com essa:
- Já existe uma linha de montagem de carros Gol no Irã que funciona com peças brasileiras e iranianas. É o mesmo carro feito no Brasil, tanto que mantivemos até o nome. Gol em persa significa "flor".
Brincadeiras à parte, existe coisa mais gay do que um carro com nome de Flor?
Lá pela terceira pergunta que enfocava a visita do presidente iraniano a terras brasileiras daqui a duas semanas, o embaixador teceu loas sobre o comércio bilateral entre os dois países. Ao falar sobre o setor de automobilismo, veio com essa:
- Já existe uma linha de montagem de carros Gol no Irã que funciona com peças brasileiras e iranianas. É o mesmo carro feito no Brasil, tanto que mantivemos até o nome. Gol em persa significa "flor".
Brincadeiras à parte, existe coisa mais gay do que um carro com nome de Flor?
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
Falta do que fazer
Um homem foi preso na noite desta quarta-feira acusado de passar 40 trotes para o 190 da Polícia Militar do Distrito Federal. José Reginaldo da Silva, de 33 anos, realizava a quadragésima ligação de um telefone público na QNN 22, em Ceilândia, quando foi autuado em flagrante pela PM.Leia mais aqui
Atenção puxa-sacos!!!
Neste domingo completa 59 anos de existência o excelentíssimo procurador-geral da República, Antônio Fernando Souza. O cara merece!
O "plim plim" do PT
Nunca na história desse país um governo agregou tantos profissionais de imprensa das Organizações Globo como este que se segue. O lulismo global começou com a entrada do ex-repórter do Fantástico, Hélio Costa, como ministro das Comunicações, seguiu com o ex-comentarista político do Jornal da Globo e Globo News, Franklin Martins, que recentemente tomou posse na Secom (Secretaria de Comunicação Social) e este articulou a entrada de Teresa Cruvinel, colunista de política do Jornal O Globo, para a presidência da TV Brasil, a TV estatal de Luís Inácio Assis Chateubriand Lula da Silva, que deve começar a operar a partir de dezembro.
Enquanto isso no Rio, o tele-deputado Wagner Montes, ex-jurado do "Programa de Calouros" do SBT de Silvio Santos é sondado para ser candidato a prefeito em 2008.
Enquanto isso no Rio, o tele-deputado Wagner Montes, ex-jurado do "Programa de Calouros" do SBT de Silvio Santos é sondado para ser candidato a prefeito em 2008.
quarta-feira, 26 de setembro de 2007
A chuva e o que vem depois dela
Nesta semana, completaram-se 4 meses sem chuvas aqui no DF e em várias regiões do Centro-Oeste. A meteorologia já anuncia para breve os primeiros pingos, lá para a segunda semana de outubro segundo os mais otimistas, e a ansiedade de tal fenônemo vem acompanhada de boas e más notícias. Tal escassez, aqui em Brasília especificamente, costuma produzir uma série de efeitos colaterais no ambiente e no asfalto da região. O que vem a seguir parece ser digno de filme catástrofe.
O clima muito seco da região e os contrastes de frio e calor excessivos fazem com que colônias de ácaros, bacilos, bactérias, vírus e outros microorganismos fiquem em, digamos, estado de hibernação aparente. Eles não agem com muita profundidade na sua função de serem parasitas microscópicos. Quando a chuva deságua sobre o cerrado, retorna para o solo o barro vermelho e fumacento que já estava misturado na atmosfera durante meses devido aos fortes ventos. O resultado é uma chuva pesada que instantaneamente devolve a umidade antes perdida e com ela os bichinhos citados acima despertam de seu sono eterno. Resultado: alergias respiratórias de toda espécie. Gripes, resfriados, rinites, bronquites, enfim, infestam os desavisados. O caos.
O pior ainda está por vir. Durante esses mesmíssimos 4 meses sem chuva, o asfalto de Brasília acumula toneladas e mais toneladas de resíduos procedentes de seus quase 930 mil veículos que circulam diariamente pela cidade. Quando começar a chover, as pistas principais e todas as suas paralelas e perpendiculares vão se transformar em ringues de patinação. A água, ao entrar em contanto com tanto lixo químico sem tratamento, produz uma espuma escorregadia que faz com que os carros se acidentem às dezenas por dia. É como se galões e mais galões de detergente tivessem sido espalhadas por algum ser diabólico. Não é brincadeira.
O clima muito seco da região e os contrastes de frio e calor excessivos fazem com que colônias de ácaros, bacilos, bactérias, vírus e outros microorganismos fiquem em, digamos, estado de hibernação aparente. Eles não agem com muita profundidade na sua função de serem parasitas microscópicos. Quando a chuva deságua sobre o cerrado, retorna para o solo o barro vermelho e fumacento que já estava misturado na atmosfera durante meses devido aos fortes ventos. O resultado é uma chuva pesada que instantaneamente devolve a umidade antes perdida e com ela os bichinhos citados acima despertam de seu sono eterno. Resultado: alergias respiratórias de toda espécie. Gripes, resfriados, rinites, bronquites, enfim, infestam os desavisados. O caos.
O pior ainda está por vir. Durante esses mesmíssimos 4 meses sem chuva, o asfalto de Brasília acumula toneladas e mais toneladas de resíduos procedentes de seus quase 930 mil veículos que circulam diariamente pela cidade. Quando começar a chover, as pistas principais e todas as suas paralelas e perpendiculares vão se transformar em ringues de patinação. A água, ao entrar em contanto com tanto lixo químico sem tratamento, produz uma espuma escorregadia que faz com que os carros se acidentem às dezenas por dia. É como se galões e mais galões de detergente tivessem sido espalhadas por algum ser diabólico. Não é brincadeira.
terça-feira, 25 de setembro de 2007
A ficha finalmente caiu...
Leia abaixo artigo escrito por Ruy Fabiano, do Jornal da Comunidade desta semana. Bastante esclarecedor.
"A Baixada Fluminense de Brasília"
"O Rio de Janeiro tornou-se capital do Brasil em 1763, ainda no tempo da Colônia. Deixou de sê-lo em 1960, com a inauguração de Brasília. Nesses 197 anos em que pontificou, formou em torno de si um cinturão de pobreza e violência – a Baixada Fluminense -, constituído por migrantes e excluídos sociais, cujo destino é gravitar em torno do poder, na expectativa das migalhas do banquete oficial.
Brasília tem apenas 47 anos – e já reproduz o cinturão de pobreza da antiga capital. Conseguiu estabelecê-lo numa velocidade quatro vezes maior. A Baixada Brasiliense – apelido que o presidente da OAB, Cezar Britto, deu ao Entorno da capital – exibe hoje todos os ingredientes que o Rio de Janeiro permitiu que se estabelecesse em sua periferia, em quase dois séculos de negligência social.
Quando o Rio despertou para o quadro de abandono social que o cercava, já era tarde. Os morros da cidade, folclorizados em numerosos sambas, como redutos de poesia e resignação, já se haviam transformado em fortalezas do narcotráfico.
E a Baixada, com suas cidades-dormitórios, carentes de infra-estrutura e ações mínimas do Estado, reproduzia em topografia plana as mesmas anomalias sociais das favelas cariocas.
A configuração presente, em que o narcotráfico ocupa morros e periferia e faz de seus moradores (em sua imensa maioria trabalhadores honestos) cinturão de proteção contra a polícia, estabeleceu-se a partir do primeiro governo Brizola, em 1982.
Embora devotado ideologicamente às causas populares, o “socialismo moreno” de Brizola tratou-as com superficialidade e visão marqueteira, com iniciativas tais como a de colocar elevadores em favelas e afirmar que, “em meu governo, polícia não sobe o morro”.
Diante disso, os traficantes subiram e estão lá até hoje, sem que nenhum governante, desde então (incluindo o próprio Brizola, que voltaria ao governo em 1990), saiba o que fazer para removê-los sem provocar um genocídio. Esse o fruto de políticas populistas ditas de esquerda, na paisagem social da ex-cidade maravilhosa.
Já em Brasília, os estragos, de dimensões equivalentes, resultam de políticas populistas ditas de direita (até hoje não descobri o que as diferencia). Joaquim Roriz, político goiano, foi nomeado governador de Brasília pelo então presidente Sarney, nos anos 80 – mesma época em que o brizolismo dava seus passos iniciais no Rio.
Roriz chegou com ânimo de permanência. E trabalhou nesse sentido, sendo vitorioso nas primeiras eleições para governador da capital federal, em 1990. Mas, como não havia reeleição, purgou breve ausência antes de retornar, em 1998 e em 2002.
Faz menos de dez anos, mas os efeitos da política populista que a partir de então adotou parecem resultar de décadas de incúria gerencial. A distribuição gratuita e maciça de lotes no entorno da cidade, sem a contrapartida de serviços de infra-estrutura e de oportunidades de emprego para os beneficiados, gerou, com uma rapidez estonteante, o quadro presente de pobreza e violência na periferia federal. Politicamente, rendeu-lhe preciosos dividendos: os beneficiários dos lotes tornaram-se eleitores cativos.
Os lotes eram o seu “bolsa-família”. Pouco lhe importavam as críticas da classe média, da imprensa ou da oposição. Eram as “elites”, dizia ele, incomodadas com a atenção que dava ao povo, etc. e tal e blá-bla-blá (qualquer semelhança não é mera coincidência).
No mapa da criminalidade, elaborado periodicamente pelo Ministério da Justiça, Brasília e seu entorno passaram a figurar, desde então, entre as cidades mais violentas do país.
O repórter Amaury Jr., do Correio Braziliense, viu isso de perto. Estava empenhado em radiografar esse ambiente, numa série de reportagens, quando, na quarta-feira (19), foi baleado a mando de traficantes. Sobreviveu, mas o trauma da agressão não é só dele ou da imprensa. É de todo o país, que constata que sua capital, até então tida como ilha da fantasia, distante da realidade sofrida dos demais entes da federação, tornou-se sua síntese mais dramática.
Brasília está cada vez mais próxima do Brasil - e cada vez mais parecida com ele: pobre, violenta e cética quanto ao futuro. Enquanto isso, o Senado discute se deve ser secreta ou não votação para julgar quebra de decoro parlamentar. Decoro? O que é isso?"
"A Baixada Fluminense de Brasília"
"O Rio de Janeiro tornou-se capital do Brasil em 1763, ainda no tempo da Colônia. Deixou de sê-lo em 1960, com a inauguração de Brasília. Nesses 197 anos em que pontificou, formou em torno de si um cinturão de pobreza e violência – a Baixada Fluminense -, constituído por migrantes e excluídos sociais, cujo destino é gravitar em torno do poder, na expectativa das migalhas do banquete oficial.
Brasília tem apenas 47 anos – e já reproduz o cinturão de pobreza da antiga capital. Conseguiu estabelecê-lo numa velocidade quatro vezes maior. A Baixada Brasiliense – apelido que o presidente da OAB, Cezar Britto, deu ao Entorno da capital – exibe hoje todos os ingredientes que o Rio de Janeiro permitiu que se estabelecesse em sua periferia, em quase dois séculos de negligência social.
Quando o Rio despertou para o quadro de abandono social que o cercava, já era tarde. Os morros da cidade, folclorizados em numerosos sambas, como redutos de poesia e resignação, já se haviam transformado em fortalezas do narcotráfico.
E a Baixada, com suas cidades-dormitórios, carentes de infra-estrutura e ações mínimas do Estado, reproduzia em topografia plana as mesmas anomalias sociais das favelas cariocas.
A configuração presente, em que o narcotráfico ocupa morros e periferia e faz de seus moradores (em sua imensa maioria trabalhadores honestos) cinturão de proteção contra a polícia, estabeleceu-se a partir do primeiro governo Brizola, em 1982.
Embora devotado ideologicamente às causas populares, o “socialismo moreno” de Brizola tratou-as com superficialidade e visão marqueteira, com iniciativas tais como a de colocar elevadores em favelas e afirmar que, “em meu governo, polícia não sobe o morro”.
Diante disso, os traficantes subiram e estão lá até hoje, sem que nenhum governante, desde então (incluindo o próprio Brizola, que voltaria ao governo em 1990), saiba o que fazer para removê-los sem provocar um genocídio. Esse o fruto de políticas populistas ditas de esquerda, na paisagem social da ex-cidade maravilhosa.
Já em Brasília, os estragos, de dimensões equivalentes, resultam de políticas populistas ditas de direita (até hoje não descobri o que as diferencia). Joaquim Roriz, político goiano, foi nomeado governador de Brasília pelo então presidente Sarney, nos anos 80 – mesma época em que o brizolismo dava seus passos iniciais no Rio.
Roriz chegou com ânimo de permanência. E trabalhou nesse sentido, sendo vitorioso nas primeiras eleições para governador da capital federal, em 1990. Mas, como não havia reeleição, purgou breve ausência antes de retornar, em 1998 e em 2002.
Faz menos de dez anos, mas os efeitos da política populista que a partir de então adotou parecem resultar de décadas de incúria gerencial. A distribuição gratuita e maciça de lotes no entorno da cidade, sem a contrapartida de serviços de infra-estrutura e de oportunidades de emprego para os beneficiados, gerou, com uma rapidez estonteante, o quadro presente de pobreza e violência na periferia federal. Politicamente, rendeu-lhe preciosos dividendos: os beneficiários dos lotes tornaram-se eleitores cativos.
Os lotes eram o seu “bolsa-família”. Pouco lhe importavam as críticas da classe média, da imprensa ou da oposição. Eram as “elites”, dizia ele, incomodadas com a atenção que dava ao povo, etc. e tal e blá-bla-blá (qualquer semelhança não é mera coincidência).
No mapa da criminalidade, elaborado periodicamente pelo Ministério da Justiça, Brasília e seu entorno passaram a figurar, desde então, entre as cidades mais violentas do país.
O repórter Amaury Jr., do Correio Braziliense, viu isso de perto. Estava empenhado em radiografar esse ambiente, numa série de reportagens, quando, na quarta-feira (19), foi baleado a mando de traficantes. Sobreviveu, mas o trauma da agressão não é só dele ou da imprensa. É de todo o país, que constata que sua capital, até então tida como ilha da fantasia, distante da realidade sofrida dos demais entes da federação, tornou-se sua síntese mais dramática.
Brasília está cada vez mais próxima do Brasil - e cada vez mais parecida com ele: pobre, violenta e cética quanto ao futuro. Enquanto isso, o Senado discute se deve ser secreta ou não votação para julgar quebra de decoro parlamentar. Decoro? O que é isso?"
segunda-feira, 17 de setembro de 2007
Capitalismo manso
A impressão que se tem por aqui, às vezes, é de que o cliente é um artigo de luxo um tanto desnecessário para a prosperidade dos negócios no DF. São vários os relatos e pessoas (não brasilienses em sua extensa maioria) que se queixam da falta de traquejo de estabelecimentos comerciais quando se deparam com pequenos contratempos que deveriam, em tese, ser revertidos para o benefício da clientela. Exemplo do último caso:
Um cidadão precisa comprar um garrafão de água, desses de 20 litros, pois o estoque doméstico está acabando e o clima seco da cidade nessa época não é para amadores. Ao adentrar a loja, ele é informado pela mocinha do caixa de que o garrafão que possui é incompatível com a marca líder e portanto não será possível a troca. O consumidor pergunta se pode, então, comprar o garrafão apenas. Após a resposta afirmativa, ele inocentemente pergunta pelo preço. A moça responde que o "rapaz que poderia responder a essa questão não se encontra, mas que vai estar aqui em duas horas".
Como se não bastasse, ela pergunta se o cliente não gostaria de levar um cartão com o telefone da loja para que o sedento freguês ligasse mais tarde para perguntar sobre o preço do garrafão.
Desistiu na hora e só levou um pote de requeijão, economizando a conta do telefone.
O garrafão foi comprado num posto de gasolina.
Um cidadão precisa comprar um garrafão de água, desses de 20 litros, pois o estoque doméstico está acabando e o clima seco da cidade nessa época não é para amadores. Ao adentrar a loja, ele é informado pela mocinha do caixa de que o garrafão que possui é incompatível com a marca líder e portanto não será possível a troca. O consumidor pergunta se pode, então, comprar o garrafão apenas. Após a resposta afirmativa, ele inocentemente pergunta pelo preço. A moça responde que o "rapaz que poderia responder a essa questão não se encontra, mas que vai estar aqui em duas horas".
Como se não bastasse, ela pergunta se o cliente não gostaria de levar um cartão com o telefone da loja para que o sedento freguês ligasse mais tarde para perguntar sobre o preço do garrafão.
Desistiu na hora e só levou um pote de requeijão, economizando a conta do telefone.
O garrafão foi comprado num posto de gasolina.
terça-feira, 11 de setembro de 2007
Falando sobre vaia
Acompanhando a namorada ao médico, preencho os minutos de espera folheando um curioso artigo de Ruth de Aquino, da revista Época, sobre a vaia sofrida pelo governador Sérgio Cabral, semanas antes, em um evento em Campos (Norte-Fluminense) onde o presidente Lula, um entendido do assunto e convidado-testemunha do episódio, teria aconselhado paciência nesse tipo de contratempo ao recém-empossado governador.
A escriba faz um pequeno libelo sobre a função sócio-política da vaia, por definição uma manifestação de desagravo. Ilustrando sua tese, a articulista se apropria do verbete retirado do...Wikipedia, uma enciclopédia virtual colaborativa da internet.
Por colaborativa, compreende-se a possibilidade de uma vastidão de pretensos entendedores com computadores domésticos produzir conteúdos apócrifos e sem rigores científicos ou teóricos de pesquisa necessários para uma qualificação de credibilidade. No Wikipedia, a "vaia" sofre algumas alterações tendenciosas de significado e é assim descrita, entre outros argumentos: "Em casos de extrema desaprovação, pode ser acompanhada de objetos arremessados no palco."
É evidente que a enciclopédia eletrônica se preparou para eventuais imperfeições ou distorções, sendo que qualquer internauta pode interagir e modificar o conteúdo que considerar ofensivo ou calunioso. Por ter sido utilizado, talvez, uma definição semântica duvidosa do substantivo, segue uma delineação mais tradicional e confiável da palavra vinda do Aurélio, o dicionário:
"Zombar, escarnecer, troçar. Dar vaias, fazer assuada, manifestação em forma de gritos e assobios"
"Os objetos arremessados no palco" na definição anterior pode ter obra de algum Democrata. Com todo o respeito.
A escriba faz um pequeno libelo sobre a função sócio-política da vaia, por definição uma manifestação de desagravo. Ilustrando sua tese, a articulista se apropria do verbete retirado do...Wikipedia, uma enciclopédia virtual colaborativa da internet.
Por colaborativa, compreende-se a possibilidade de uma vastidão de pretensos entendedores com computadores domésticos produzir conteúdos apócrifos e sem rigores científicos ou teóricos de pesquisa necessários para uma qualificação de credibilidade. No Wikipedia, a "vaia" sofre algumas alterações tendenciosas de significado e é assim descrita, entre outros argumentos: "Em casos de extrema desaprovação, pode ser acompanhada de objetos arremessados no palco."
É evidente que a enciclopédia eletrônica se preparou para eventuais imperfeições ou distorções, sendo que qualquer internauta pode interagir e modificar o conteúdo que considerar ofensivo ou calunioso. Por ter sido utilizado, talvez, uma definição semântica duvidosa do substantivo, segue uma delineação mais tradicional e confiável da palavra vinda do Aurélio, o dicionário:
"Zombar, escarnecer, troçar. Dar vaias, fazer assuada, manifestação em forma de gritos e assobios"
"Os objetos arremessados no palco" na definição anterior pode ter obra de algum Democrata. Com todo o respeito.
quarta-feira, 5 de setembro de 2007
Sentimento de ingratidão
É comum a imprensa daqui sempre questionar a alguma celebridade candanga que despontou Brasil afora sobre o porquê de se abandonar a terra natal. Não há necessariamente um sentimento de rancor inquisitório nas perguntas, mas sempre fica nas entrelinhas um quase dever de justificativa. Ás vezes o ressentimento descamba para insinuações mais explícitas. A última foi com o poeta Chacal em entrevista ao caderno "Pensar", do Correio Braziliense de 1º de setembro. Eis a pergunta:
- Você viveu em Brasília, mas parece que não quis saber de ser um brasiliense de fato. Houve um momento em que você enjoou da cidade, se negou a participar de atos culturais e chegou a considerá-la provinciana. Que maus humores lhe levaram a isso?
A resposta foi de uma diplomacia poucas vezes vista em saias justas como essa. Apesar de carioca de nascimento, Chacal passou uma temporada por aqui nos idos da década de 70. Chegou a montar um movimento cultural que não alcançou a expressão que deveria. Teve de se mudar para o Rio "onde vive vertiginosamente seus movimentos e intensidades culturais"
É. Pode ser.
- Você viveu em Brasília, mas parece que não quis saber de ser um brasiliense de fato. Houve um momento em que você enjoou da cidade, se negou a participar de atos culturais e chegou a considerá-la provinciana. Que maus humores lhe levaram a isso?
A resposta foi de uma diplomacia poucas vezes vista em saias justas como essa. Apesar de carioca de nascimento, Chacal passou uma temporada por aqui nos idos da década de 70. Chegou a montar um movimento cultural que não alcançou a expressão que deveria. Teve de se mudar para o Rio "onde vive vertiginosamente seus movimentos e intensidades culturais"
É. Pode ser.
sexta-feira, 31 de agosto de 2007
Alexandre, o Gracinha
Essa foi testemunhada hoje apenas pelos telespectadores do DFTV, o jornal local da Rede Globo. Matéria abordava uma infestação de pulgas ocorrida em uma escola pública de Sobradinho, cidade satélite do Distrito Federal.
Professores, alunos e funcionários viviam constantemente vitimados pelos insetos que eram transportados através de cachorros vindos de chácaras vizinhas. Crianças foram filmadas pela equipe de TV brincando com um vira-lata que, no texto da repórter, era reconhecidamente um hospedeiro da praga.
Eis que no final da matéria, Alexandre Garcia (aquele mesmo) solta a seguinte pérola:
- Nossa repórter ficará de quarentena até terça-feira.
Era piada ou não?
Professores, alunos e funcionários viviam constantemente vitimados pelos insetos que eram transportados através de cachorros vindos de chácaras vizinhas. Crianças foram filmadas pela equipe de TV brincando com um vira-lata que, no texto da repórter, era reconhecidamente um hospedeiro da praga.
Eis que no final da matéria, Alexandre Garcia (aquele mesmo) solta a seguinte pérola:
- Nossa repórter ficará de quarentena até terça-feira.
Era piada ou não?
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
Quando o passado não condena
Aqui em Brasília, uma comissão da Câmara Distrital está investigando a deputada Erika Keyka (PT-DF) acusada de corrupção, entre outras cositas más. Até aí nada demais. O interessante na biografia da moça é que ela é a mesma deputada que encaminhou junto a Comissão de Direitos Humanos um estudo para ser desenvolvido pela Universidade de Brasília sobre o aumento alarmante nas estatísticas de suícidio da Capital federal, uma das maiores incidências do país.
domingo, 19 de agosto de 2007
Relato de um carioca em Brasília parte 2
Depois de um breve hiato, voltei a escrever. Talvez não em doses nem tão homeopáticas ou homéricas assim de coragem, mas pelo menos é uma terapia baseada no hábito de escrever. Isso já basta. Alivia um pouco, alivia demais. Dessa vez prometo, pelo menos para mim mesmo e pela minha sempre fiel e inexistente audiência, que caso haja mais pré-disposição de minha parte para tal, não deixarei essa rotina assim tão largada ao relento.Nem que seja para fazer uma reciclagem de estilo e narrativa, escrevo. Obrigo-me, por enquanto, a esse...hummmmm....prazer. Um dia explico melhor o significado de tantas interferências nesse processo. Processo esse que eu deveria respeitar mais, me devotar mais, desburocratizar as vontades. Como já disse, um dia eu explico melhor pra vocês.
Estou de volta às terras cariocas. Ao calor, à família, aos que me têm bem. Esse exílio consensual em terras candangas federais foi praticamente um bimestre de auto-ajuda em tempo integral. Fui meu próprio divã, não pelas circunstâncias de uma série de inseguranças existenciais, mas para que os fatos que as produziam fossem debeladas e as conclusões sobre o que eu deveria fazer com elas fossem as mais resolutas em pouquíssimop tempo. São dois meses em que conheci o melhor de mim: o exercício de ser paciente comigo mesmo. Paciente com as expectativas da alcova, do piso, da esquina, da cozinha, do teclado, da falta do teclado, do espelho, dos vícios, do corpo, da alma, das cobranças, dos esporros que dou, dos esporros que recebo, das mãos atadas para tanta coisa, da liberdade por fim conseguida, negociada, adaptada... e, por fim, do amor essencialmente vivido, transformado em soma e multiplicação. De quê eu exatamente não sei ainda. Mas tenho uma leve desconfiança.
Nesses dez dias que ficarei aqui, eu tenho certeza de duas coisas. Uma: meu futuro não está traçado ainda. Dois: vou continuar traçando o meu futuro para ontem. Mas preciso de reparos, preciso de fôlego, preciso de um pouco de amigos, de cerveja, de colo de mãe, comidinha caseira de mãe. Esse está sendo o ano mais curto da minha vida e os outros vão ser menores ainda. Só quero saber o que poder dar certo e não tenho tempo a perder. Mas não posso perder a ternura. Preciso de 10 dias para tirar o pé do acelerador.
Ontem eu sei que chutei em direção ao gol. Foi gol de placa ou bola na trave? Quer saber? Não me importo. Estou é cansado de ouvir os apitos de impedimento da minha vida.
Estou de volta às terras cariocas. Ao calor, à família, aos que me têm bem. Esse exílio consensual em terras candangas federais foi praticamente um bimestre de auto-ajuda em tempo integral. Fui meu próprio divã, não pelas circunstâncias de uma série de inseguranças existenciais, mas para que os fatos que as produziam fossem debeladas e as conclusões sobre o que eu deveria fazer com elas fossem as mais resolutas em pouquíssimop tempo. São dois meses em que conheci o melhor de mim: o exercício de ser paciente comigo mesmo. Paciente com as expectativas da alcova, do piso, da esquina, da cozinha, do teclado, da falta do teclado, do espelho, dos vícios, do corpo, da alma, das cobranças, dos esporros que dou, dos esporros que recebo, das mãos atadas para tanta coisa, da liberdade por fim conseguida, negociada, adaptada... e, por fim, do amor essencialmente vivido, transformado em soma e multiplicação. De quê eu exatamente não sei ainda. Mas tenho uma leve desconfiança.
Nesses dez dias que ficarei aqui, eu tenho certeza de duas coisas. Uma: meu futuro não está traçado ainda. Dois: vou continuar traçando o meu futuro para ontem. Mas preciso de reparos, preciso de fôlego, preciso de um pouco de amigos, de cerveja, de colo de mãe, comidinha caseira de mãe. Esse está sendo o ano mais curto da minha vida e os outros vão ser menores ainda. Só quero saber o que poder dar certo e não tenho tempo a perder. Mas não posso perder a ternura. Preciso de 10 dias para tirar o pé do acelerador.
Ontem eu sei que chutei em direção ao gol. Foi gol de placa ou bola na trave? Quer saber? Não me importo. Estou é cansado de ouvir os apitos de impedimento da minha vida.
terça-feira, 19 de junho de 2007
Relato de um carioca em Brasília (parte 1)
Decidi me aproveitar da praticidade deste blog e relatar aos caros amigos um resumo detalhado dessas quase duas primeiras semanas em Brasília. Elas têm sido um turbilhão de emoções, como vocês podem imaginar, já que, pela primeira vez em muitíssimo tempo, volto a compartilhar a vida a dois cheio de esperanças e promessas de amor mútuo.
Chegando
Logo que desembarquei no aeroporto internacional Juscelino Kubishek, num sábado, lá estava ela, de calça pescador branca, linda, à minha espera. Corri para encontrar um orelhão e despreocupar as figuras familiares que, de antemão, já haviam sofrido um pequeno chá de cadeira comigo no Galeão por causa dos infinitos atrasos dessa crise aérea insuportável. Devo ter chegado umas três horas atrasado, mas nada comparado com que o aconteceu dias antes com a Mari que deve ter feito a sua via crucis até em casa com quase o dobro de duração. Após encontrar o orelhão e escutar as primeiras frases de minha mãe desejando boa sorte com a voz mais do que embargada pela saudade instantânea, o sangue gelou, as pernas bambaram e a inevitável pergunta finalmente veio: Deus, o que vai ser daqui pra frente?
Em casa
Ficamos apreensivos de início, mas estamos felizes. Nada do que poderá acontecer (e conversamos sobre tudo o que vocês podem imaginar sobre o enorme catálogo de tabus inomináveis da vida de casado) vai nos tomar de surpresa. É claro que exercício de futurologia e prática são duas coisas muito distintas, mas pelo menos já temos consciência de como reagir aos sintomas.
Estamos preocupados por enquanto em sermos companheiros, amigos, amantes, mas não compartilhamos da filosofia conformista do "nós dois nos bastamos". Amamos agitação, pessoas, novidades, boemia e isso vai nos fortalecer bastante, tenho certeza. Mesmo estando em Brasília, uma capital que não é conhecida por ser a mais calorosa da face da Terra. As taferas domésticas são aquelas que todos já conhecem, mas fazemos isso conversando, rindo, nos sacaneando saudavelmente até. Há o respeito por regras, manias, horários, divisão de tarefas. Ela quer me preparar um peixe com batatas e eu um risoto de morango. Já pegamos as receitas e as poremos em prática muito em breve.
O clima
O frio das manhãs secas desse outono idem na Capital Federal compensa com uma luminosidade que poucas vezes vi na minha vida. Um sol com uma filtragem própria
que quando inside nas folhas secas cobertas por uma fina camada de paina, produz um pequeno espetáculo visual de encher os olhos. Monet, se tivesse uma câmera
digital, com certeza não precisaria de photoshop para tirar belíssimas impressões de luz sobre a paisagem.
Sempre bebi muita água, mas na Cidade Autorama esse hábito tem de ser uma prática de sobrevivência (com exageros hehehe)por causa da baixíssima umidade que tem por aqui nessa época. Narizes sangram e recomenda-se óleo de gergelim para hidratar as fossas nasais. Quem sofre de sinusite pode passar duas semanas com uma fungação incômoda e ao subir uma escada com puquíssimos degraus pode-se ter a sensação de ter corrido uma maratona. Ainda não precisamos colocar uma bacia com água para deixar as noites mais humanamente agradáveis. Segundo informações do meu sogro, um corpo que sempre se acostumou com a climatização litorânea pode se adaptar calmamente ao cerrado dentro de uns 15 dias.
O ninho de amor
As imediações da residência são um capítulo à parte. Mari soube escolher muitíssimo bem. Tem bom gosto a namorada. Um amplo condomínio aberto com ruas calmas, repleto de pequenos centros comerciais intercalados por entre suas super-quadras (com supermercados, farmácias, restaurantes, pet-shops e toda a sorte de confortos civilizatórios minimamente aceitáveis), ruas arborizadas, enfim. Cada detalhe de encher os olhos de tanta perfeição. As futuras famílias são brindadas com várias escolas públicas cujo percurso pode ser feito em poquíssimos passos. Perto de nós há pelo menos duas boas bibliotecas, um cinema, uma lan house e um centro cultural, além do que eles chamam aqui de Clube de Vizinhança, dotado de piscina e outras atrações próprias para as famílias.
O único problema, para quem chega, é não se confundir com ruas tão idênticas (pelo menos as que pertencem às superquadras) e com a salada de letras e números que compõem os endereços daqui.
Chegando
Logo que desembarquei no aeroporto internacional Juscelino Kubishek, num sábado, lá estava ela, de calça pescador branca, linda, à minha espera. Corri para encontrar um orelhão e despreocupar as figuras familiares que, de antemão, já haviam sofrido um pequeno chá de cadeira comigo no Galeão por causa dos infinitos atrasos dessa crise aérea insuportável. Devo ter chegado umas três horas atrasado, mas nada comparado com que o aconteceu dias antes com a Mari que deve ter feito a sua via crucis até em casa com quase o dobro de duração. Após encontrar o orelhão e escutar as primeiras frases de minha mãe desejando boa sorte com a voz mais do que embargada pela saudade instantânea, o sangue gelou, as pernas bambaram e a inevitável pergunta finalmente veio: Deus, o que vai ser daqui pra frente?
Em casa
Ficamos apreensivos de início, mas estamos felizes. Nada do que poderá acontecer (e conversamos sobre tudo o que vocês podem imaginar sobre o enorme catálogo de tabus inomináveis da vida de casado) vai nos tomar de surpresa. É claro que exercício de futurologia e prática são duas coisas muito distintas, mas pelo menos já temos consciência de como reagir aos sintomas.
Estamos preocupados por enquanto em sermos companheiros, amigos, amantes, mas não compartilhamos da filosofia conformista do "nós dois nos bastamos". Amamos agitação, pessoas, novidades, boemia e isso vai nos fortalecer bastante, tenho certeza. Mesmo estando em Brasília, uma capital que não é conhecida por ser a mais calorosa da face da Terra. As taferas domésticas são aquelas que todos já conhecem, mas fazemos isso conversando, rindo, nos sacaneando saudavelmente até. Há o respeito por regras, manias, horários, divisão de tarefas. Ela quer me preparar um peixe com batatas e eu um risoto de morango. Já pegamos as receitas e as poremos em prática muito em breve.
O clima
O frio das manhãs secas desse outono idem na Capital Federal compensa com uma luminosidade que poucas vezes vi na minha vida. Um sol com uma filtragem própria
que quando inside nas folhas secas cobertas por uma fina camada de paina, produz um pequeno espetáculo visual de encher os olhos. Monet, se tivesse uma câmera
digital, com certeza não precisaria de photoshop para tirar belíssimas impressões de luz sobre a paisagem.
Sempre bebi muita água, mas na Cidade Autorama esse hábito tem de ser uma prática de sobrevivência (com exageros hehehe)por causa da baixíssima umidade que tem por aqui nessa época. Narizes sangram e recomenda-se óleo de gergelim para hidratar as fossas nasais. Quem sofre de sinusite pode passar duas semanas com uma fungação incômoda e ao subir uma escada com puquíssimos degraus pode-se ter a sensação de ter corrido uma maratona. Ainda não precisamos colocar uma bacia com água para deixar as noites mais humanamente agradáveis. Segundo informações do meu sogro, um corpo que sempre se acostumou com a climatização litorânea pode se adaptar calmamente ao cerrado dentro de uns 15 dias.
O ninho de amor
As imediações da residência são um capítulo à parte. Mari soube escolher muitíssimo bem. Tem bom gosto a namorada. Um amplo condomínio aberto com ruas calmas, repleto de pequenos centros comerciais intercalados por entre suas super-quadras (com supermercados, farmácias, restaurantes, pet-shops e toda a sorte de confortos civilizatórios minimamente aceitáveis), ruas arborizadas, enfim. Cada detalhe de encher os olhos de tanta perfeição. As futuras famílias são brindadas com várias escolas públicas cujo percurso pode ser feito em poquíssimos passos. Perto de nós há pelo menos duas boas bibliotecas, um cinema, uma lan house e um centro cultural, além do que eles chamam aqui de Clube de Vizinhança, dotado de piscina e outras atrações próprias para as famílias.
O único problema, para quem chega, é não se confundir com ruas tão idênticas (pelo menos as que pertencem às superquadras) e com a salada de letras e números que compõem os endereços daqui.
segunda-feira, 28 de maio de 2007
Um novo apartheid?
A revista americana Business 2.0 fez um levantamento de empresas que vão revolucionar a relação entre a humanidade e a maneira como se navega pela internet, além de recriar o conceito de utilização de novas tecnologias. São produtos, programas e sites que vão desenvolver patamares de necessidade nunca antes imaginados em nossa vida cotidiana. Até aí nada demais.
O que me mais chamou a atenção nesses artefatos "revolucionários" foi um programa/site chamado Simulscribe que transcreve automaticamente as mensagens de voz em texto. O aplicativo foi desenvolvido para facilitar a comunicação via celular, por enquanto. Mas o uso deve se extender a todas as plataformas eletrônicas conhecidas. Ou seja, daqui a alguns anos, estaremos completamente dispensados da árdua tarefa de digitar as nossas palavras. Escrever com os próprios dedos será uma perda de tempo, uma completa ausência de praticidade e agilidade para se dinamizar e disseminar informações, especialmente no mundo corporativo.
E como até lá o mundo vai continuar injusto e desigual, já prevejo as massas de excluídos das novas tecnologias clamando, em fervorosos protestos, a urgência em se lutar contra o novo tipo de abismo social que povoará a civilização: o apartheid vocal.
O que me mais chamou a atenção nesses artefatos "revolucionários" foi um programa/site chamado Simulscribe que transcreve automaticamente as mensagens de voz em texto. O aplicativo foi desenvolvido para facilitar a comunicação via celular, por enquanto. Mas o uso deve se extender a todas as plataformas eletrônicas conhecidas. Ou seja, daqui a alguns anos, estaremos completamente dispensados da árdua tarefa de digitar as nossas palavras. Escrever com os próprios dedos será uma perda de tempo, uma completa ausência de praticidade e agilidade para se dinamizar e disseminar informações, especialmente no mundo corporativo.
E como até lá o mundo vai continuar injusto e desigual, já prevejo as massas de excluídos das novas tecnologias clamando, em fervorosos protestos, a urgência em se lutar contra o novo tipo de abismo social que povoará a civilização: o apartheid vocal.
segunda-feira, 21 de maio de 2007
E esse tal de habeas-corpus?
Toda vez que a Polícia Federal desbarata um grande esquema de corrupção, como esse que desencadeou a Operação Navalha, os advogados dos envolvidos nas maracutaias correm para o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) para que lhes seja garantida a concessão de habeas corpus para seus clientes. Muitos enxergam nessa manobra um pressuposto inconteste para a via da impunidade, já que o recurso só é divulgado para livrar os supostos criminosos de suas futuras penas. Mas não é bem assim.
Segundo o Direito Constitucional, o habeas - corpus é concedido sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção por ilegalidade, abuso de poder ou qualquer outra forma de constrangimento ilegal. O termo foi agregado à Constituição de 1824 e é uma garantia fundamental da cidadania.
O que constrange essa garantia é a quantidade de vezes que tal instituto é aplicado para um tipo específico de público. Se um presidente de estatal adentrar a Daslú e surrupiar uma gravata Hermes de R$ 600, todos os procedimentos jurídicos serão acionados à luz do dia e, no final de algumas horas, paga-se uma multa cujo montante pode ser o dobro do valor conferido ao produto furtado.
Se um mecânico negro for confundido com um estuprador, vai ser trucidado física e moralmente pelas autoridades antes que alguém se lembre de que houve um constrangimento ilegal que afetou a sua liberdade de ir e vir.
terça-feira, 15 de maio de 2007
Entrevista com Lula
Assim é uma entrevista coletiva com um presidente da República na democracia petista: feita no máximo duas vezes por mandato (a última foi em abril de 2005)e cada pergunta deve durar, no máximo, 1 minuto.
Todos os veículos de comunicação ou, pelo menos, àqueles que ao Executivo interessa como veículo de propagação mais alardeada, arregimentados numa patética fila indiana de organização stalinista, dando-lhes o curto espaço de 1 hora de duração.
Um governo que escolhe sua própria sabatina via sorteio, proibindo perguntas desfavoráveis é um governo perigoso...
Um governo que gasta R$ 1 bilhão em propaganda é um governo que pode comprar opiniões dos que deveriam, por ventura, formar opinião...
Num país em que a censura às biografias, aos trabalhos jornalísticos sérios e com ampla pesquisa já está se tornando uma rotina, percebe-se ser ridículo estranhar autoritarismos como esse.
Às vezes sinto medo...
domingo, 13 de maio de 2007
Para nunca mais esquecer
Poderia, com todo o direito, utilizar esse ciberespaço para tecer loas à minha tão querida genitora, mas como não dou muita importância para datas que estimulam mais a urgência em se comprar presentes do que valorizar rituais familiares, resolvi pensar na mãe dos outros. Ou melhor, nas mães cuja maternidade foi arrancada bruscamente pela violência.
Em 1990, nascia o movimento Mães de Acari onde corajosas senhoras denunciaram à sociedade mais uma forma de brutalidade das forças policiais. Até hoje não há nenhuma informação sobre o paradeiro dos 11 adolescentes que eram forçados a trabalhar em esquemas de extorsão para PM´s. Por motivos ainda desconhecidos, talvez uma provável queima de arquivo, 11 mães passaram, então, a chorar óbitos não oficiais de seus filhos.
Viraram ONG, mereceram menção honrosa na ONU e são internacionalmente conhecidas por serem um dos grupos pró-direitos humanos mais atuantes da América Latina. Já´foram elogiadas, inclusive, pelas Mães da Praça de Maio grupo que lutou contra as arbitrariedades da ditadura militar na Argentina.
Conheçam um pouco da história dessa guerreiras
Dedico à elas esse post
Em 1990, nascia o movimento Mães de Acari onde corajosas senhoras denunciaram à sociedade mais uma forma de brutalidade das forças policiais. Até hoje não há nenhuma informação sobre o paradeiro dos 11 adolescentes que eram forçados a trabalhar em esquemas de extorsão para PM´s. Por motivos ainda desconhecidos, talvez uma provável queima de arquivo, 11 mães passaram, então, a chorar óbitos não oficiais de seus filhos.
Viraram ONG, mereceram menção honrosa na ONU e são internacionalmente conhecidas por serem um dos grupos pró-direitos humanos mais atuantes da América Latina. Já´foram elogiadas, inclusive, pelas Mães da Praça de Maio grupo que lutou contra as arbitrariedades da ditadura militar na Argentina.
Conheçam um pouco da história dessa guerreiras
Dedico à elas esse post
sexta-feira, 11 de maio de 2007
Legendas bizarras
Tudo bem que existe a turminha que odeia (assim como eu) filme dublado. Mas, de vez em quando, nos deparamos com umas legendagens que parecem feitas para chamar mais atenção do que a película em si.
Ontem assistindo ao DVD de "A Rainha", uma reconstituição muito interessante sobre os bastidores da Família Real Britância nos dias que sucederam à morte de Lady Di, o primeiro-ministro Tony Blair (que foi de vital importância para que a Rainha Elisabeth II esquecesse o seu ódio por Diana e manifestasse perante o mundo o seu pesar, ainda que protocolado) era indentificado por um vergonhoso Vlair.
Já o Palácio de Buckingham foi descrito com um outro vergonhoso Vuckingham.
Desatenção é uma coisa, mas falta de informação...
Ontem assistindo ao DVD de "A Rainha", uma reconstituição muito interessante sobre os bastidores da Família Real Britância nos dias que sucederam à morte de Lady Di, o primeiro-ministro Tony Blair (que foi de vital importância para que a Rainha Elisabeth II esquecesse o seu ódio por Diana e manifestasse perante o mundo o seu pesar, ainda que protocolado) era indentificado por um vergonhoso Vlair.
Já o Palácio de Buckingham foi descrito com um outro vergonhoso Vuckingham.
Desatenção é uma coisa, mas falta de informação...
quinta-feira, 10 de maio de 2007
Vamos combinar
Clodovil apenas tem raiva das mulheres que gostaria de ter sido. Se continuar assim,acho que vem uma cassação.
Entretanto, o rapaz teve uma idéia que interessa (e muito!) à... comunidade de dubladores de filmes...
Uma de suas proposições é a alteração da Lei nº 9.610/98, que garante aos dubladores de obras audiovisuais a menção de seus nomes ou sinais nos créditos da obra e o direito de participarem dos resultados de exibição.
Entretanto, o rapaz teve uma idéia que interessa (e muito!) à... comunidade de dubladores de filmes...
Uma de suas proposições é a alteração da Lei nº 9.610/98, que garante aos dubladores de obras audiovisuais a menção de seus nomes ou sinais nos créditos da obra e o direito de participarem dos resultados de exibição.
Não é de hoje
Que o ministro da saúde José Gomes Temporão enfrenta problemas de divergência em cargo público. Quando era diretor-geral do INCA (Instituto Nacional do Câncer) em maio de 2005 foi acusado pela associação de funcionários do instituto de fazer corpo mole frente às terceirizações que aconteciam debaixo de sua barba.
Na época, o INCA também foi convidado a se mobilizar a favor da construção de uma estação do metrô na Praça da Cruz Vermelha, no centro do Rio, junto com diversas entidades. A direção não se manisfestou, mas permitiu que funcionários aderissem ao protesto.
Na época, o INCA também foi convidado a se mobilizar a favor da construção de uma estação do metrô na Praça da Cruz Vermelha, no centro do Rio, junto com diversas entidades. A direção não se manisfestou, mas permitiu que funcionários aderissem ao protesto.
quarta-feira, 9 de maio de 2007
Pedofilia na Oprah
Oprah Winfrey, uma das mais influentes apresentadoras de TV dos EUA nunca escondeu de seu público que é uma sobrevivente de estupro. Então, é com natural isenção de imparcialidade que vibre com pautas que abordem o desmantelamento de organizações que estimulem o abuso sexual mundo afora. Anteontem, portanto, não foi diferente.
O mais impressionante no tema abordado pelo programa, além de interessantes dicas sobre como detectar um adulto em comportamento suspeito, foi a descoberta de uma sociedade secreta que atua há mais de 20 anos em solo americano e que não apenas faz uso da internet para a troca de material, experiências e metodologias sutis de assédio em crianças e adolescentes, mas funciona como uma espécie de marketing em rede da saliência. Há publicação oficial, site, blog e, pasmem, até conferências em vários estados em que é comum a presença de mais de uma centena de pessoas para relatar as suas "proezas".
A NAMBLA, sigla em inglês para North American Man/Boy Love Association impressiona por defender com naturalidade uma conduta de relação sexual entre adultos e crianças, baseada no princípio do consentimento mútuo entre eles. Ou seja, desde que a criança seja convencida de que é normal e prazeroso fazer sexo com alguém com o quádrulo de idade, tudo bem.
O pior de tudo é que a organização possui advogados (repito: ADVOGADOS!) que no parecer jurídico deles, defendem que a NAMBLA não faz apologia a crime algum, já que não prega a agressão física como estupro e é contra a propagação de fotos pornográficas, por exemplo. É apenas uma comunidade bizarra de pessoas que falam abertamente sobre um conceito de liberdade sexual extremamente polêmico. Nesse caso, pela ótica dessa justiça aleijada, eles deveriam instigar o mesmo tipo de estranhamento e periculosidade que deveria se ter com pedólatras (feticheiros por pés).
De qualquer maneira, uma hora depois da exposição da NAMBLA no programa, o site foi retirado de circulação. O link acima é uma apenas informação contextualizada do Wikipedia.
Assinar:
Postagens (Atom)