terça-feira, 30 de outubro de 2007

Brazilian way of life

A Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, é um bairro de bacanas onde reina a jequice ululante que tenta convencer a todos que é mais chique se parecer com uma filial bananesca de Miami.

Cerca de 90% de seus estabelecimentos comerciais almofadinhas possuem mensagens de ofertas e promoções em inglês. Até os traficantes da Rocinha, num esperto golpe de marketing estrategicamente endereçado ao seu seletíssimo público-alvo do high society, inventaram, num passado recente, um esquema de entregas batizado de "pó delivery".

Mas nada disso chega aos pés da mais alarmante prova do quão colonizados somos pela águia frondosa do Império.

Brasília tem o seu bairrozinho emergente, este batizado especialmente com a grafia anglo-saxã. Trata-se do bairro Park Way. Também é majoritariamente conhecido como SMPW ou, simplesmente, Setor de Mansões Park Way. Deve ser o único bairro brasileiro da federação com um nome inteiramente em inglês.

Grassa ali uma atmosfera tão esnobe que seus moradores não questionam a necessidade de uma zona comercial nas imediações para fazer suas compras básicas. Quem quiser pagar por um simples brunch, por exemplo, que se recoste em seu possante Pajero platinado e dirije-se aos setores "menos favorecidos" onde o serviço é cordialmente exercido pelos mucamos assalariados das cidades satélites.

Coisas assim me fazem sentir saudades da Estátua da Liberdade da Av. das Américas.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Um pouco sobre o Rio



Gostaria de tecer uma análise minuciosa sobre Tropa de Elite, um filme complexo por demais em toda a sua estrutura narrativa e discursiva, mas tal detalhamento crítico levaria horas e o tempo é um tanto escasso para a conclusão de um trabalho com que se espere um mínimo de satisfação. Porém, gostaria de dizer algumas coisinhas:

1) Quem quiser simplificá-lo com recalques de extremos ideológicos vai estar cometendo a mais doce das imbecilidades. É um excelente filme que nada mais é do que a tradução de um conjunto de consequências dentro de nossa sociedade, onde TODOS têm a sua parcela de culpa. Elite e políticos, principalmente. Vamos precisar de mais alguns anos para verificar se "Tropa..." vai padecer no limbo do esquecimento ou pertencer àquela sagrada galeria de filmes essenciais para se entender uma determinada época.

2)O Capitão Nascimento é um ser devastado emocionalmente, está à beira de um colapso nervoso, toma anti-depressivos para estabilizar a sua neurose.Tem um casamento falido, sente remorso, está estafado e quer abandonar a rotina de violência que integra a sua vida. Está sendo internamente massacrado pelo cotidiano que tem. Ele está muito longe da perfeição dos heróis mitológicos. Ele não um Super-Homem portando um fuzil a tira-colo. O Capitão Nascimento é a sua própria kriptonita. Ele é humano, demasiadamente humano, como diria Niezstche.

3) Até o próprio criador do Bope, Coronel Amêndola, em entrevista a um blog especializado em reportagens policiais do Globo admitiu que o comportamento de Nascimento é um pouco fantasioso. Será?

4) Aqui está disponível uma resenha crítica sobre "Vigiar e Punir", o livro do filósofo francês Michel Foucault sobre o nascimento das instituições de repressão e controle penal que originaram metamorfoses do calibre de um Bope. A obra-prima é mencionada no filme e tem quase um parágrafo inteiro lido pelo personagem Matias, feito com maestria por André Ramiro. Aliás, o livro, completou exatas três décadas de polêmicas esse ano.

5)Vamos combinar. Nem toda ONG é um antro de permissividade e conluio com o tráfico como é mostrado na película. Tive o prazer de conhecer de perto o trabalho de, pelo menos, umas 5 delas no ano passado e o único entrave que, de fato, precisa passar pela "aprovação" dos chefões das bocas de fumo é o local onde vai ser construído o escritório da Organização Não Governamental e o que ela vai fazer em detalhes. De resto, desde que um não atrapalhe "os negócios" do outro, é cada um para um lado na santa paz de Deus.

6) Resumindo, resumindo, resumindo, "Tropa de Elite" é o nosso primeiríssimo filme de guerra. Assim como em "Platoon" e "Nascido para Matar" que retratavam, cada um à sua maneira, um exército em crise, apesar de propagada infalibilidade (o primeiro foca-se na decorrada moral, o segundo na derrocada psicológica), o exemplar tupiniquim estrapola as derrocadas sociais que anulam sua áurea de perfeição.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Mais do que ascensoristas

Existem mais semelhanças entre a Procuradoria Geral da República e a Torre de TV de Brasília do que imagina nossa vã filosofia. E não estou me referindo à mesma escola modernista de arquitetura. Mas aos que conduzem todos os dias o sobe-e-desce de elevadores que possibilita que funcionários e turistas exerçam o sagrado direito constitucional de ir e vir.

Um trabalha na PGR e, para exaurir um pouco a entediante obviedade do ofício, transforma os minutos disponíveis do cárcere vertiginoso em leitura. E não se trata de qualquer leitura. O funcionário (que ainda vou descobrir o nome) é flagrado folheando obras de Sheldon, Dostoiéviski, Dan Brown (nesse caso tive que ausentar a menção solitária do sobrenome por limitações de sua ainda não imortalizada fama como escritor clássico) Machado, Amado e por aí vai.

Menos intelectual, por assim dizer, mas não menos notável, o ascensorista da Torre de TV de Brasília se faz de guia turístico instantâneo, tentando resumir algumas informações técnicas sobre a construção da torre no curto trajeto de 22 segundos que separa o térreo e a plataforma de observação com os seus mais de 70 metros de altura. No retorno ao solo, os turistas são surpreendidos com uma divertida trívia feita pelo próprio ascensorista sobre as informações fornecidas anteriormente.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

A coleguinha


Postado hoje no Blog do Noblat, do Globo On line. Até as 14h39 desta terça-feira, 177 comentários haviam sido feitos sobre as fotos de Mônica Veloso na Playboy

Um pouco de ecologia I - Salvem a corujinha!!!

A ampliação do estacionamento da Igreja Presbiteriana do Lago Sul poderá ameaçar várias famílias de corujas buraqueiras que habitam a região. Ela tem como hábito peculiar cavar buracos no solo onde monta os seus ninhos e passa as noites, já que é uma das poucas espécies de corujas com hábitos diurnos.

Tais aves chegam a medir até 23 cm de comprimento, com coloração parda com traços cor de terra. Costumam viver em campos, pastos e restingas. Também são conhecidas pelos nomes de caburé-de-cupim, caburé-do-campo, coruja-barata, coruja-do-campo, coruja-mineira, corujinha-buraqueira, corujinha-do-buraco, corujinha-do-campo, guedé, urucuera, urucuréia e urucuriá.

Clicando aqui você pode ter uma belíssima imagem do bichinho.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

O pedal é mais embaixo

É apenas a ponta do iceberg querer promover qualquer tipo de discussão moralizadora sobre os culpados envolvidos num racha na ponte JK, no Lago Sul de Brasília, onde morreram 3 pessoas nesse fim de semana. Sem querer me estender sobre didatismos estéreis acerca da responsabilidade que deveria ter um profesor de 41 anos (!) que dirigia bêbado na hora da tragédia, o assunto em si desperta uma excelente oportunidade de análise sobre como a Capital Federal trata os seus motoristas. Trata como se fossem deuses.

Brasília foi projetada para ser uma cidade em que o carro é mais do que um símbolo de consumo e status. É uma ferramenta de necessidade, um diploma reconhecidamente nobre de pertencimento à sociedade sem que o indivíduo seja observado com estranheza. Com os seus amplos espaços, suas pistas longínquas, cada metro quadrado daqui é carregado de uma auto-crítica referencial ao fato de um cidadão não "ter o direito" de ser um mero pedestre desprovido de carburador e cavalos de força.

Há mais pessoas ao volante no asfalto do que almas andarilhas em suas calçadas. A proporção estatística é de 1 carro para cada 4 pessoas, segundo o DFTrans. Para se ter uma idéia do quão alienígenas são os que necessitam do Estado para a simples locomoção a curtas e médias distâncias, somente há alguns meses é que um governo do DF demonstrou sensibilidade com o drama.

Foram adquiridos recentemente 530 ônibus para revitalizar uma das frotas mais sucateadas do país. Antes disso, circulavam, para o desprazer dos pobres trabalhadores, monstros fabricados no início da década de 90 com pouquíssimas amostras de manutenção. Uma das empresas mais criticadas no quesito relaxamento era a Viplan, que pertence ao ex-todo poderoso dono da Vasp, Wagner Canhedo.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

A Lei do Simon

O peemedebista Pedro Simon, gentilmente recém-convidado a se retirar da Comissão de Constituição de Justiça do Senado pelo (até que alguém tenha a coragem de provar o contrário) capo Renan Calheiros, é autor de uma lei que hiberna há exatos dez anos no Congresso Nacional.

É a 9454/97 que unifica em um só cartão numerado o conjunto de documentos que o cidadão é, por lei, obrigado a portar.

Estariam atrelados a ele nome,filiação,CPF,RG, naturalidade, tipo sanguíneo, além das chamadas informações biométricas (impressões digitais, assinatura e fotografia)

O novo sistema, garantem especialistas, pode reduzir em muito os casos envolvendo falsificação de carteiras de identidade. Segundo cálculos da Previdência, entre R$ 10 bilhões a R$ 15 bilhões são perdidos anualmente em razão de fraudes.

Saiba mais lendo:

Aqui

E aqui também

Mega-ultra-hiper-combo-factóide

Acredite. O "decreto do ano", aquele em que o governador do DF, José Roberto Arruda, "demite" o gerúndio do poder público brasiliense, é tema em mais de 12.800 páginas postadas no Google.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Só falta a loja de conveniência

Deveria ser intencional para diversificar a utilização do espaço projetado.

Mas o fato é que causa certa estranheza a biblioteca digital do Centro Universitário do Distrito Federal, (UniDF) disputar o mesmo ambiente onde encontra-se um pequeno auditório com cerca de 20 lugares com direito a telão e retroprojetor.

Entre pesquisas na internet, simples envio de e-mails e afins, você é obrigado a escutar a apresentação de um grupo qualquer com as presenças de professora, corpo discente e todo o resto.

Anteontem foi a vez de um grupo de alunos de Direito apresentar um trabalho sobre Direito de Família. Um dos alunos introduziu sua defesa de estudo com uma anedota sobre galinhas e raposas que durou intermináveis 10 minutos.

No meu tempo, biblioteca era local onde se priorizava o silêncio.

Meninos, eu vi!

Ontem, por volta das 21h30, saída do supermercado Comper, Asa Sul, 306.

Dois casais aparentando ser de procedência árabe carregavam suas compras honestas em direção ao estacionamento. O fato inusitado da situação foi perceber que as moças trajavam burkas! Sim, aquele traje imortalizado mundialmente pelo regime fundamentalista talibã que as cobre inteiras, apenas deixando os olhos à vista do mundo pagão.

Há dezenas de testemunhas.