terça-feira, 19 de junho de 2007

Relato de um carioca em Brasília (parte 1)

Decidi me aproveitar da praticidade deste blog e relatar aos caros amigos um resumo detalhado dessas quase duas primeiras semanas em Brasília. Elas têm sido um turbilhão de emoções, como vocês podem imaginar, já que, pela primeira vez em muitíssimo tempo, volto a compartilhar a vida a dois cheio de esperanças e promessas de amor mútuo.

Chegando

Logo que desembarquei no aeroporto internacional Juscelino Kubishek, num sábado, lá estava ela, de calça pescador branca, linda, à minha espera. Corri para encontrar um orelhão e despreocupar as figuras familiares que, de antemão, já haviam sofrido um pequeno chá de cadeira comigo no Galeão por causa dos infinitos atrasos dessa crise aérea insuportável. Devo ter chegado umas três horas atrasado, mas nada comparado com que o aconteceu dias antes com a Mari que deve ter feito a sua via crucis até em casa com quase o dobro de duração. Após encontrar o orelhão e escutar as primeiras frases de minha mãe desejando boa sorte com a voz mais do que embargada pela saudade instantânea, o sangue gelou, as pernas bambaram e a inevitável pergunta finalmente veio: Deus, o que vai ser daqui pra frente?

Em casa
Ficamos apreensivos de início, mas estamos felizes. Nada do que poderá acontecer (e conversamos sobre tudo o que vocês podem imaginar sobre o enorme catálogo de tabus inomináveis da vida de casado) vai nos tomar de surpresa. É claro que exercício de futurologia e prática são duas coisas muito distintas, mas pelo menos já temos consciência de como reagir aos sintomas.
Estamos preocupados por enquanto em sermos companheiros, amigos, amantes, mas não compartilhamos da filosofia conformista do "nós dois nos bastamos". Amamos agitação, pessoas, novidades, boemia e isso vai nos fortalecer bastante, tenho certeza. Mesmo estando em Brasília, uma capital que não é conhecida por ser a mais calorosa da face da Terra. As taferas domésticas são aquelas que todos já conhecem, mas fazemos isso conversando, rindo, nos sacaneando saudavelmente até. Há o respeito por regras, manias, horários, divisão de tarefas. Ela quer me preparar um peixe com batatas e eu um risoto de morango. Já pegamos as receitas e as poremos em prática muito em breve.

O clima
O frio das manhãs secas desse outono idem na Capital Federal compensa com uma luminosidade que poucas vezes vi na minha vida. Um sol com uma filtragem própria
que quando inside nas folhas secas cobertas por uma fina camada de paina, produz um pequeno espetáculo visual de encher os olhos. Monet, se tivesse uma câmera
digital, com certeza não precisaria de photoshop para tirar belíssimas impressões de luz sobre a paisagem.
Sempre bebi muita água, mas na Cidade Autorama esse hábito tem de ser uma prática de sobrevivência (com exageros hehehe)por causa da baixíssima umidade que tem por aqui nessa época. Narizes sangram e recomenda-se óleo de gergelim para hidratar as fossas nasais. Quem sofre de sinusite pode passar duas semanas com uma fungação incômoda e ao subir uma escada com puquíssimos degraus pode-se ter a sensação de ter corrido uma maratona. Ainda não precisamos colocar uma bacia com água para deixar as noites mais humanamente agradáveis. Segundo informações do meu sogro, um corpo que sempre se acostumou com a climatização litorânea pode se adaptar calmamente ao cerrado dentro de uns 15 dias.

O ninho de amor
As imediações da residência são um capítulo à parte. Mari soube escolher muitíssimo bem. Tem bom gosto a namorada. Um amplo condomínio aberto com ruas calmas, repleto de pequenos centros comerciais intercalados por entre suas super-quadras (com supermercados, farmácias, restaurantes, pet-shops e toda a sorte de confortos civilizatórios minimamente aceitáveis), ruas arborizadas, enfim. Cada detalhe de encher os olhos de tanta perfeição. As futuras famílias são brindadas com várias escolas públicas cujo percurso pode ser feito em poquíssimos passos. Perto de nós há pelo menos duas boas bibliotecas, um cinema, uma lan house e um centro cultural, além do que eles chamam aqui de Clube de Vizinhança, dotado de piscina e outras atrações próprias para as famílias.
O único problema, para quem chega, é não se confundir com ruas tão idênticas (pelo menos as que pertencem às superquadras) e com a salada de letras e números que compõem os endereços daqui.