segunda-feira, 26 de novembro de 2007

A lenta agonia dos Raimundos


A banda brasiliense de hardcore Raimundos completa 20 anos em 2007. Está muito longe de ser a influência que exerceu em meados na década de 90. Está tão distante da ribalta quanto no seu início. As brigas internas geraram acordes tão desarmônicos entre os seus integrantes que dois deles que ilustram essa foto (o vocalista Rodolfo; de óculos escuros, e o baterista, o barbudinho Fred) sequer pertencem mais a esse elenco. O primeiro virou evangélico às pressas e o segundo, sabe-se lá o que faz da vida agora.

Mas os caras insistem, mesmo que as comparações inevitáveis entre o antes e depois da fama meteórica causem certo constrangimento. Em entrevista dada a um jornal local da Rede Record nesse fim de semana, os quatro em sua nova formação (com Digão nos vocais, Canisso no baixo, Marquim, nas baquetas e Alf na guitarra) estavam em cima de um minúsculo palco montado em um ginásio esportivo que não deveria ter 10 metros de um extremo a outro. Para quem já lotou o Canecão no Rio ou abriu uma das edições do MTV Video Music Brasil era de dar dó assistir a tamanha decadência.

Apesar de pequena, a matéria foi reveladora. Eles preparam uma pseudo volta com uma turnê inédita...pelo Distrito Federal. Se tocarem em 10 cidades, já será um feito. Os shows vêm acompanhados do que eles chamam de "ingresso solidário". Metade do preço do ingresso e um livro em boas condições para a construção de bibliotecas em algumas cidades da região(a primeira foi a do Guará), garantem a entrada para rever sucessos como "Me Lambe", "Eu quero ver o oco", entre outras.

A repórter pergunta quais são os planos para o ano que vem. DVD? Um novo CD? Digão, um pouco tímido, diz que "a prioridade é apenas tocar, não estamos querendo fazer estardalhaço, por enquanto;vamos espalhar a notícia aos poucos". Humildade? Não. Estão sem gravadora e a banda perdeu a sua capacidade mercadológica na mídia faz tempo. As bandas trash da década de 80 encontram mais espaço de divulgação e promoção do que eles.

Mas justiça seja feita, o grupo não era ruim. Pertenceu àquela cepa de bandas de rock com cromossomos engraçadinhos como Baba Cósmica, Maria do Relento (alguém se lembra disso?)e, a mais famosa e rentável de todas, Manonas Assassinas. A debandada repentina do chamariz do grupo, Rodolfo, que simplesmente declarou que estava caindo fora para pregar a Palavra da Deus e bateu a porta na cara de todos, virou de ponta-cabeça a vida dos Raimundos remanescentes. Foi um inferno, especialmente para os negócios, já que contratos foram rasgados e multas pesadas tiveram de ser pagas para ressarcir shows cancelados.

Mas nada que uma boa queda não faça para que se repense com calma o que fazer daqui em diante não acham? De qualquer forma, antes a volta mirrada de um rock divertido, autêntico e descompromissado com "mensagens" do que a continuidade de imbecilidades como Latino.

4 comentários:

Mari disse...

Deu pena mesmo.

Anônimo disse...

Finalmente uma coisa boa de ler neste blog! Mas como você não viveu e nem deve andar pelos quadras do Plano Piloto, o Fred continua caminhando pela cidade. Outra coisa é que eles nunca foram da cepa de bandas de rock com cromossomos engraçadinhos. O primeiro CD foi lançada pela extinta Banguela e que abriu espaço para outras bandas do DF. Inclusive, as principais músicas eram assinadas pelo Telo (Os Filhos de Menguele) e Gabriel Thomaz (hoje no Autoramas). Eles não eram ruins, eram bons pracario!

Fabio disse...

FABIO LINO: "O Fred continua caminhando pela cidade". Hummmm...Teria ele virado fiscal de trânsito ou maratonista patrociando pela Brasil Telecom? Ou seja, o que ele faz ou deixa de fazer continua sendo uma icògnita.

Fabio disse...

FABIO LINO 2: Então foi uma grandissísima coincidência as bandas citadas terem surgido depois deles...A indústria fonográfica nunca trabalhou com "tendências" musicais mesmo que fabricadas, não é mesmo? Como sou ingênuo.