terça-feira, 13 de novembro de 2007
Depois reclamam...
Os proprietários do Jornal de Brasília acharam por bem encontrar um garoto propaganda à altura de suas ambições comerciais. Elegeram para a tarefa alguém sob medida que representasse uma grande parcela de seus leitores ou, talvez, o tipo de notícia consumida por esse mesmo público-alvo. Alguém com apelo popular suficiente que pudesse estar identificado como um igual perante a sua massa de consumidores fiéis para multiplicar as vendagens de suas edições.
Escolheram Nerso da Capitinga, o caipira mineiro criado pelo humorista Pedro Bismark, uma das descobertas de Chico Anysio. Nerso é um personagem bronco, ingênuo, que mal articula as palavras, que, sabe-se lá, se lê ou escreve. Ele já fez propaganda de rodeios, supermercados e até de insumos agrícolas. Mas nunca imaginei que alguém pudesse enxergar em Nerso, uma estratégia eficiente de marketing para um jornal diário que entre suas matérias-primas estão rigores analítico-textuais que Nerso nem sonha em saber do que se trata.
Pelo racio(símio) descrito nesse estudo de caso, tal aberração se repetiria caso contratassem o João Gordo para fazer um comercial sobre academias de ginástica ou uma modelo anoréxica para uma propaganda sobre complementos alimentares. Daqui a pouco veremos o palhaço Tiririca tecendo loas ao Correio Braziliense. Muito esquisito...
Definitivamente, foi um tiro no pé. Não leio mais o "JB" daqui por respeito à inteligência que ainda possuo. Mais uma prova dos tempos inglórios que a categoria (à dos jornalistas, especifique-se) vive.
E mais uma prova da província jeca que é Brasília.
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8 comentários:
Realmente, essa não foi uma idéia das mais felizes...
Calma aí, companheiro! Concordo que a campanha com o tal do Capetinguense é pra lá de ruim... Se vc conhecesse o jornal - com o devido respeito à galera sangue-bom que rala naquele treco - entenderia.
Também concordo que Brasília é mais provinciana ainda que o Rio de Janeiro. Quero acreditar que vc tenha o mínimo de visão de mundo pra não achar que o Rio é uma metrópole...
Mas vc não acha que é muito novo para estar repetindo discurso dos críticos da mudança da capital para o Centro-Oeste? Essa conversa é das décadas de 1950 e 1960...
E, na boa, aquela campanha da Folha - com o trio que abre a boca e saem sons de improvisos (muito ruins) de jazz - presta? Ou não seria tão cretina quanto?
Pega mais leve no trato com as pessoas, cara! Diogo Mainardi já tem um... Depois dele, só o Fábio Lino.
Abraço!
Caro Nicolas, em nenhum momento do texto eu ataquei os jornalistas do JB.Sei que lá existem excelentes profissionais,mas se vc der uma olhada mais aguçada em sua volta,perceberá que jornalismo e jornalistas não são mais os mesmos.Os tempos inglórios os quais que me referia são baseados na perda de credibilidade e de estímulo ao trabalho que antes nós tinhamos.Vá a comunidade do Orkut "Trabalho para jornalistas" e veja do que estou falando.Tem uma matéria minha publicada no Observatório da Imprensa sobre a questão.
Eu não critico a mudança da capital federal para Brasília.Os problemas brasileiros estão muito além da geografia.
A propaganda da Folha é correta,pois como vc bem observou, o alvo era os amantes do jazz.É a venda de um produto vinculado ao jornal. Bem diferente...Se a Folha promovesse uma viagem a Barretos,aí sim poderia utilizar até o Nerso como garoto propaganda sem cair no ridículo.
Abs
Cara, não sei como foi a propaganda, não vi nada relaciona e tal. Mas será que o uso do Nerson não foi justamente um ataque de ironia feita pelo jornal não?? Sei lá, me soou isso.... acho que eles não seriam tão locos de tal marketing.....
Cara, vlw pelo comentário, muito obrigado mesmo. Volte sempre ok?!
Abraço!
Diego, a situação é mais regionalizada de fato, mas nos fundamentos do marketing entende-se que é necessário utilizar-se de alguém que possua uma identificação com o produto a ser vendido e decididamente, não importa o veículo de tal estado ou distrito, um caipira bobão jamais deveria ser a escolha para um jornal que se diz tradicional ou respeitado.
Abs
Pra mim é tudo caipira mesmo!
Brasília é uma das cidades mais caipiras que eu conheci na vida!
O pobre do Niemeyer não tinha idéia do que tava criando quando desenhou aquele avião!
E nisso não há nenhuma relação com a discussão sobre interiorização da capital, nem crítica ao gênio arquitetônico... A questão caipirística latente nesta cidade é a absoluta falta de sociabilidade.
Ser capital, não implica em capitalidade, um conceito já bem trabalhado por quem estuda o urbano.
Assumir o Nerson da Capitinga como ícone da identidade local, nada mais é do que resgatar o já famigerado, re-editado e ampliado axioma do Jeca Tatu, do Lobato.
Cá pra nós, cada cidade constrói sua identidade como lhe convém.
E já que o que acontece na Esplanada encontra pouco eco nas desventuras urbanas dos habitantes... Não me parece deveras incongruente que o referido periódico tente ampliar a gama de leitores locais, fazendo uso desse emblema identitário que é o Nerson.
Note-se que a tal campanha publicitária é local. Não chegou ao Rio e duvido que a Sampa. Em Minas, provavelmente.
Aos seus o que lhe é devido. E à Brasília o Nerson que lhe compete!
Encerro resgatando a chavão símbolo de outro emblemático personagem da identidade nacional: "Ai, que preguiça..." (Macunaíma de Mário de Andrade)
Hahaha muito bom o seu blog. Eu, que estou vivendo na Irlanda, gostaria de citar uma propaganda veiculada aqui. Um gorila tocando bateria acompanha a musica 'In the air tonight' do Phill Collins, no final, a surpresa: uma propagada de chocolate! Todos se perguntam, o que tem a ver? Nada! Essa foi a intencao. No caso do Jornal citado, desconheco, nao vi a tal propaganda, mas talvez nosso amigo Fabio esteja certo. A maneira como encaramos um veiculo de informacoes talvez esteja mudada, a ponto das pessoas acharem normal esse tipo de coisa. Ainda acredito que imprensa s'eria e com credibilidade exista ai no Brasil. Nao obstante esse ramo se afunila e fica mais dificil saber o que ler pra nao bancar o Nerso. Abs
DAÍ:Faço minhas as suas palavras!!!!
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