Uma das minhas novas atribuições na empresa aqui em Brasília é fazer matérias para um periódico chamado Fala Aeroporto. Como o nome pode sugerir, é uma publicação especializada em assuntos relacionados com questões aeroportuárias. Até aí nada demais. Fui designado para telefonar para alguns gerentes de hotéis que ficam no entorno do Santos Dummont (RJ) e tocar a pauta que me foi incumbida que, no caso, era sobre os serviços de hospedagem para clientes corporativos.
Porém, o que mais me chocou foi perceber que do outro lado da linha havia uma desconfiança ainda que velada. Ao me apresentar como repórter e esclarecer minhas intenções, eu não devo ter sido muito convincente. As atendentes, antes de me passarem para o gerente, ora perguntavam pela segunda vez “do que se trata mesmo”, ora faziam ruídos que misturavam muxoxos com esgares de dúvida (algo que, definitivamente, não vou conseguir reproduzir em palavras, mas que com certeza não eram demonstrações de entusiasmo).
Depois é que a ficha caiu. Até 2006 era comum no Rio, e em outras cidades como São Paulo e Belo Horizonte, marginais aplicarem golpes através do telefone. Na maioria deles, eram tentativas de extorsão através do anúncio de falsos seqüestros envolvendo parentes das pessoas que recebiam as ligações. Com isso, a população deve ter ficado bem mais ressabiada ao receber telefonemas de estranhos, por bem educados e bem intencionados que fossem. Criou-se uma espécie de comportamento defensivo para antever qualquer tentativa de golpe similar.
Confesso que essa experiência me trouxe um certo desconforto. Na lógica desse comportamento defensivo, eu deveria ser mais um marginalzinho disfarçado de jornalista prestes a aplicar outro golpe. Eu deveria, supostamente, estar coletando informações estratégicas sobre os hotéis e o perfil de seus hóspedes e determinar qual seria a melhor forma para arquitetar uma invasão ou algo assim.
Ou então não deveria ser nada disso. Talvez fosse apenas a minha interpretação equivocada sobre uma desconfiança que eu próprio possa ter criado. Talvez o meu excesso de cuidado em, exatamente, não dar essa falsa impressão de lobo disfarçado de cordeiro tenha resultado em um efeito ironicamente contrário de percepção. Vai saber.
Parafraseando Hannah Arendt, estou vivendo a era da banalidade da desconfiança.
terça-feira, 8 de abril de 2008
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Um comentário:
Também já passei muito por isso quando trabalhava na iniciativa privada, quando precisava levantar o funcionamento de determinado tipo de edifício para fazer algo semelhante.
Tenta só entrar num hotel e dizer que quer ver todas as dependências para poder projetar um outro hotel?
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