quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Os primeiros 6 meses

Não é fácil abandonar a asa sempre acolhedora da mãe, as conversas sempre tão recíprocas de amigos de longa data, a terra sempre tão disposta a ser hospitaleira e gentil para com os que chegam e viver longe de todos esses predicados numa cidade onde não há nem uma coisa, nem outra, e tampouco a terceira.

Não quero passar a impressão de que essa metade de ano aqui em Brasília seja apenas um calvário frustrante. Aprendi que sobreviver em um local que não te pertence, sem um mínimo de tolerância possível, é um exercício eterno de masoquismo despropositado. Pra quê ganhar mais rugas e cabelos brancos com problemas pequenos se o próprio tempo cuida disso.

Estou sendo feliz com a minha vida pessoal, um desafio constante, extenuante, cansativo ás vezes. Não recomendo a ninguém que escolha viver a dois sem que não haja paciência, perseverança e maturidade para tal. Mas que há as suas delicias, isso não há dúvida.

A partir da semana que vem prometo fazer um balanço detalhado. Em um único e grande post para todos entenderem o que é viver aqui.

No mais, feliz 6 meses de vida candanga

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Cadê a ditadura? Sumiu....

Atualizado às 11:45h de 4 de dezembro

Jornalistas políticos pertencem a uma raça que adora tentar antecipar o futuro com a ajuda de projeções feitas por institutos de pesquisa chapa-branca ou publicamente contrários a algum mandatário do Executivo. Já os regimes políticos que supostamente censuram os meios de comunicação de algum país, merecem mais do sarrafadas de costume em editoriais nos jornalões. E com razão. Mesmo vendida, patrulhista ou parcial ao extremo, antes uma imprensa livre com esses sintomas do que toda ela sistematicamente calada e impedida de se expressar. Assim é a democracia, infelizmente feita para não agradar a todos. Mas a defesa apaixonada e corporativa dessa mesma mídia resulta em desastres como o que se viu durante as semanas que anteciparam o referendo venezuelano que encabeçaria poderes de reeleição ilimitada ao presidente Hugo Chavez.

O resultado final foi um dos maiores exercícios de presunção vistos nos últimos anos pela imprensa brasileira. Miriam Leitão, Alexandre Garcia, Diogo Mainardi e tantos outros esqueceram por completo a prudência e interpretaram ecos de indecisão como uma vitória manipulada antes mesmo dela existir. A palpitaria equivocada gerou-se, em especial, graças às notícias em tempo real divulgadas pelas agências EFE e Reuters, ambas pró-Bush. Quando perceberam que a votação (apertada, diga-se de passagem) pelo NÃO foi a escolhida, optaram por defender "o fator surpresa" dos eleitores como uma espécie de Plano B para suas barrigadas na TV, nos jornais e nos blogs. E havia outra solução?

Confiou-se tanto na certeza de que uma ditadura em crescimento na Venezuela não poderia originar outra coisa, senão na confirmação da vontade institucionalizada chavista para finalizar seus planos de liderança eterna, que o clima de torcida "do quanto pior, melhor" deu lugar à análise jornalística. Que decepção para eles...Foi o poder do voto de uma maioria descontente com os andamentos de uma nação que determinou os seus rumos políticos daqui pra frente. Não os tanques nem as baionetas de um "hitlerzito" com cara de rato.

Ok, há ainda sinais de que o chavismo é um governo radical, que não costuma aceitar diálogos bilaterais, controla os Três Poderes, tem uma Assembléia Legislativa com calos nas línguas de tanto lamber o coturno do coronel. Mas aceitou uma derrota nas urnas. Isso faz muita diferença.

E como diria Paulo Henrique Amorim: "Não são apenas as jabuticabas que existem só no nosso país. São pesquisas com intenção de voto que ocorrem faltando 3 anos para as eleições".