segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Imprensa e interesse público


Semana passada um intenso debate ocorrido quarta-feira na sede da Imprensa Nacional, no Setor de Indústrias Gráficas, evidenciou os limites dos que defendem teses sob a ótica da retórica pura. De um lado, o gueto que exalta a volta de um jornalismo combativo, independente e sem as amarras comerciais que influenciam pautas e outros processos de produção jornalística. Do outro, os que assumem que a indústria midiática hegemônica tal como a conhecemos hoje veio para ficar, que dar as costas para o fato é negar o inevitável. Do lado do jornalismo combativo estava Alberto Dines (foto), produtor e apresentador do Observatório da Imprensa, da TV Brasil, um assumido militante do chamado Quarto Poder. Defendendo o jornalismo escancaradamente corporativista estava o editor de política do Correio Braziliense, Alon Feuerwerker.

O surrealismo do evento pode ser traduzido na origem do assunto em pauta e seus desdobramentos. È o ano de comemoração dos 200 anos da Imprensa Brasileira que confere sua gênese na criação do próprio Correio, por Hipólito José da Costa em 1º de junho de 1808. Dines, sempre fiel ao seu panfletarismo, teceu loas às idéias liberais de seu fundador, notório por defender a emancipação territorial da Coroa Portuguesa. A ressonância do discurso se manisfestou de forma eficaz perante as quase duas centenas de alunos e profissionais recém-formados presentes no auditório. Mas o pragmatismo acadêmico que até encontrou bons momentos como na defesa em se instituir cursos de História do Jornalismo nas faculdades, não se solidificou. Ao proferir aos quatros cantos que “o lucro é bom, mas não é tudo”, mal sabia Dines que os arautos da produção de necessidades informacionais atrelados aos interesses do vil metal estavam esperando o momento certo para contra-atacarem.

O discurso encontrou seus pés de barro. Na contramão da ideologia nacionalista-patriótica que antes orientava o leme do Correio, o editor de política Alon nos devolveu o senso de realidade dessa nova geração da imprensa do Planalto Central e que se reflete mundialmente. Em outras palavras, a indústria jornalística de modelo fordista, que não encontra tempo para reflexões em suas estruturas narrativas e apenas recorre à transmissão maciça dos fatos propriamente ditos e tendeciosamente adequados aos interesses capitalistas continuará em seu modelo vigente.

O público assistiu, apalermado, duas defesas apaixonadas de dois universos paralelos que fizeram parte de um mesmo jornal. Um apenas anulou as idéias do outro. Sem vencedores, mas ainda assim atores principais de um debate antológico.

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